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​ALUNO DO CPV CONQUISTOU O PÓDIO!

O aluno Miguel F. conquistou o 3.º lugar do pódio, ex aequo, em representação do AEP, no Concurso Uma Aventura… Literária 2025, promovido pela Editorial Caminho.

Em todas as turmas de 9.º ano do Agrupamento, houve alunos a participar neste concurso, na modalidade de Texto Original, demonstrando empenho e qualidade nos trabalhos apresentados: Carolina P., Inês C., Isabel R., Joaquim C., Leonor C., Lourenço M., Madalena C., Madalena N. e Martim P.

​​Muitos parabéns a todos e, em especial, ao Miguel F. pela conquista memorável feita no maior concurso literário juvenil de língua portuguesa. Este ano letivo, houve 10.458 trabalhos a disputar o pódio.

​O Clube dos Poetas Vivos publica, orgulhosamente, os trabalhos dos alunos supramencionados, destacando o premiado: Batalha Espacial.

Trabalho Premiado | 3.º Lugar

Batalha Espacial

Muitos anos-luz longe da Terra, uma raça alienígena de monstros com três olhos, bocas enormes e vinte pernas aterroriza a galáxia Messier 104, destruindo inúmeros planetas com as suas naves espaciais que possuem um laser devastador.

Cansados da destruição que esta espécie, os Devastadores, causava, outros extraterrestres, chamados Ogulp, seres gelatinosos com um olho apenas, decidiram tentar derrotar aqueles monstros. Apesar das suas fraquezas e aparência ridícula, estes aliens safavam-se bem na luta por causa do seu corpo ágil, no entanto, mesmo assim pensavam que precisariam de ajuda para vencê-los.

Perguntaram a várias espécies do seu planeta e de outros, mas todas elas tinham medo dos Devastadores e de perder completamente o seu planeta em segundos. Então, sem escolha, os Ogulp declararam guerra aos Devastadores e decidiram que lutariam sozinhos, o comando estava preparado e as tropas organizadas. Porém, na galáxia, todos os acharam imprudentes e começaram a despedir-se do planeta destes extraterrestres - AEgir.

Quando a guerra começou, os Devastadores estavam certos de que aquilo mal seria uma guerra, no entanto, ficaram surpreendidos com as habilidades dos seus adversários. Além de se desviarem de quase todos os tiros, bombas e lasers, os Ogulp conseguiam absorver o que lhes acertava graças ao seu corpo gelatinoso e assim foram capazes de destruir um grupo de naves dos inimigos.

Então, os Devastadores tomaram medidas drásticas. Estavam furiosos. Começaram a devorar os seus inimigos e estavam prestes a usar a sua arma mais poderosa: o laser devastador. Foi um massacre. Aos aliens que tinham um olho apenas, só já lhes restava uma nave. Parecia estar tudo perdido, até o líder dos Ogulp ter tido uma ideia. Tinham os seus animais de estimação, os Vidraliens. Estes animais do planeta AEgir eram transparentes e refletiam muito bem a luz. Decidiu usá-los para refletir o laser.

Estava pronto, poderia não resultar, poderia morrer ali, mas arriscou. O laser veio com toda a força, ele fechou o olho e esperou pelo melhor. Passado algum tempo, voltou a abri-lo e viu que tinha funcionado. O seu Vidralien conseguiu refletir o laser e este acabou por destruir a nave principal e fundamental dos Devastadores.

Sem mais escolhas, os que antes eram os destruidores de planetas recuaram e prometeram pôr fim à destruição e devastação que os caracterizava. Aprenderam finalmente a não subestimar os inimigos, uma importante lição.

Todos celebraram a surpreendente vitória dos Ogulp que, naquele dia, foram os salvadores de Messier 104.

​​

Miguel F.

Uma aventura numa crise de idade

Finalmente chegou o dia do meu aniversário, estava tão ansiosa com os meus 16 anos. Escolhi a roupa ao pormenor e fui para a escola com a minha mãe, a viagem de carro não podia ter sido melhor, cantámos e gritámos as nossas músicas preferidas o caminho todo. O dia estava a ser incrível, mas, no caminho para a escola, depois de ter ido almoçar a casa, encontrei a Maria Carlota e as amigas dela, elas odeiam-me. Tentei passar por elas discretamente, mas falhei. Uma delas pôs o pé à minha frente e eu tropecei, caí numa poça de lama. Voltei para casa à pressa e a chorar enquanto elas se riam de mim. Conseguia ouvir aquelas gargalhadas maléficas a ruas de distância. Escusado será dizer que arruinaram o meu aniversário. Fiquei o resto do dia trancada no quarto, não queria acreditar que elas me tinham feito aquilo. Estava a chorar quando a minha mãe entrou pelo quarto dentro a chamar-me para ir cantar os parabéns, ainda bem que consegui disfarçar o choro. Quando toda a minha família acabou de cantar aquela melodia clássica que todos conhecemos, inclinei-me e, ao apagar as velas, desejei ser adulta, desejei crescer e acabar com todo aquele drama, com a Maria Carlota. 

Levantei-me da cama quando os raios de sol atravessaram as cortinas e me acertaram em cheio nos olhos. Fui até à casa de banho a resmungar por ter que acordar tão cedo para ir para a escola e quando olhei para o espelho, apanhei um susto. Era eu, mas não com 16 anos. Teria uns 30 e poucos anos. Corri para o quarto e assim que liguei o telemóvel, vi a data no ecrã, estávamos em janeiro de 2044.

— Porque é que pediste aquele maldito desejo, Beatriz? — reclamei comigo mesma como se fosse adiantar alguma coisa.

Sentei-me na cama e fiz o possível para tentar acalmar-me, olhei à volta e percebi que aquele não era o meu quarto. Tecnicamente, tinha 36 anos, então já não devia morar com os meus pais. Voltei a ligar o telemóvel e tinha uma mensagem de um contacto guardado como “Carla chefe”, que dizia “Beatriz, estás 20 minutos atrasada, por onde andas?”.  Despachei-me quase que à velocidade da luz, embora fosse difícil escolher a roupa quando nem se sabe para onde se vai.

Cheguei à morada que encontrei numa das conversas com a minha suposta chefe. Não passava de um escritório cheio de pessoas maldispostas a trabalhar agarradas a computadores. Parece que eu era uma delas.  Ao longo do dia, fui captando pequenas informações sobre a minha eu de 36 anos, fiz um milhão de perguntas à rapariga com quem divido o apartamento e que se intitula como minha melhor amiga.

Os dias foram passando e acostumei-me com a minha vida adulta, não ao ponto de não querer voltar a ser adolescente, mas sim ao ponto de conseguir tolerar esta nova rotina.

Passou um ano e chegou o dia do meu aniversário. Estava na hora de pôr o meu plano em prática. Comportei-me tal e qual como se fosse mais um dia banal, não houve festa, surpresas escandalosas nem nada do género. Só os mais próximos sabiam que era o meu aniversário. Mais tarde, depois de jantar, quando a minha melhor amiga acabou de cantar aquela maldita música que assombra as minhas noites há um ano, inclinei-me e ao apagar as velas, desejei voltar a ter 16 anos, voltar a ser adolescente.

No dia seguinte, assim que acordei, corri para a casa de banho e, ao olhar para o espelho, vi que o meu plano tinha resultado, voltei à adolescência, embora já não fosse a mesma adolescente. Percebi que afinal esta é uma boa fase da vida e que não devemos ter medo de pessoas como a Maria Carlota e amigas. Devemos ignorá-las. Manter uma atitude confiante, ainda que não nos sintamos assim, também é uma boa estratégia. E pedir ajuda a um adulto é fundamental.

 

​​Inês C.

O Livro Vidente

Lucas era um escritor de 19 anos, que adorava ler e escrever poesia, mas a sua verdadeira perdição eram os livros antigos que encontrava em alfarrabistas. Durante mais de um dia, enquanto procurava pelos corredores algum livro que o cativasse, encontrou na estante mais antiga de todas um livro empoeirado, com capa de couro. Intrigado, resolveu comprá-lo, porque além de não ter título, as primeiras três ou quatro páginas que folheou não tinham absolutamente nada escrito.

Entretanto, no meio dos trezentos livros que tinha no quarto, esqueceu-se do bendito livro e só na semana seguinte é que se lembrou dele. Resolveu desvendar o mistério daquele livro. Preparou a caneca do café, acendeu a luz da secretária, ajeitou a cadeira e calçou as pantufas, agora sim, estava pronto para começar. Folheou página a página, mas estavam todas em branco. Frustrado, deu um murro na mesa que assustou o seu gato Tomé. Por causa do susto, o gato deu um salto e acabou por derrubar a caneca do café, que ensopou o livro por completo. Isto foi o suficiente para fazer com que Lucas desistisse daquele livro e o guardasse.

Durante meses, ficou bastante focado na escrita e todos os dias fazia um grande esforço para melhorar. Escreveu poemas, contos, romances e, devido a tamanho empenho, o seu trabalho passou a ser cada vez mais reconhecido.

Começou a receber vários convites para encontros de escritores. O último que recebera era para um festival literário, que tinha como objetivo divulgar o trabalho de escritores talentosos, mas ainda pouco conhecidos. Como morava numa cidade relativamente pequena, com a família, Lucas resolveu mudar-se para a capital para ter mais oportunidades de trabalho e frequentar este género de eventos sem qualquer constrangimento. Fez as malas e partiu. Levou consigo roupa, produtos de higiene, algum dinheiro e uns quantos livros que nem viu quais eram, apenas os enfiou na mala e fechou-a.

Na casa nova, enquanto arrumava os livros que trouxera, chamou-lhe a atenção o livro da capa de couro velha. Abriu-o. Era o tal livro em branco, mas que, desta vez, estava diferente. As páginas continham manchas de café que realçaram palavras que dantes não se viam. Começou a ler e a cada segundo que passava ficava mais curioso, mas também assustado. O livro tinha como título Diário do Futuro, a única parte legível falava de um acontecimento trágico. As frases reveladas pelo café descreviam de forma extremamente detalhada um incêndio devastador que, segundo o livro, iria acontecer durante um festival literário. Lucas não deu grande importância ao que lera, porque afinal de contas um livro velho prever o futuro era uma coisa quase inimaginável.

A semana do tão esperado evento chegou, faltavam apenas alguns dias para o festival literário, mas aquilo com que sonhou na noite anterior deixou-o preocupado. Teve um sonho amedrontador exatamente igual àquilo que lera no Diário do Futuro. As coisas aconteciam naquele sonho de forma tão detalhada que pareciam mesmo reais. Lucas lembrava-se de tudo, das chamas, das pessoas carbonizadas, dos bombeiros a chegar e até dos gritos. Mesmo depois de acordar, o seu coração batia sem parar, custava-lhe a respirar e sentia-se desesperado.

Isto foi o suficiente para fazer com que o jovem escritor ligasse para a organização do evento a alertar sobre um possível incêndio. Como era de esperar, ninguém acreditou. Cancelar um evento daquela magnitude por causa de argumentos como aqueles era impensável. Chegou mesmo a ponderar que estaria a fazer uma tempestade num copo de água e que tudo aquilo não passaria de invenções da sua cabeça. Por isso, resolveu ligar o despertador e ir ao evento no dia seguinte. No entanto, o despertador tocou, tocou, tocou e Lucas não foi capaz de acordar. Ficou extremamente triste por ter perdido tamanha oportunidade na sua vida profissional.

Quando ligou a televisão, apercebeu-se que, em todos os canais, aparecia o edifício, onde estava a decorrer o evento a que faltara, completamente em chamas. A polícia começou logo as investigações para descobrir a causa do fogo e a primeira opção foi começar por Lucas. Pensava-se que por ter ligado no dia anterior a alertar, estaria envolvido. Veio a descobrir-se a verdadeira razão e, na realidade, não estava relacionada com Lucas, que percebeu imediatamente o poder daquele livro prever tragédias.

Graças ao Diário do futuro, Lucas repensou a sua vida e passou a dividir a atividade de escrita com a de voluntariado. Era empático e tinha uma grande capacidade de comunicar ou não fosse ele escritor e poeta. Descobriu assim um voluntário dentro de si, com vontade de contribuir para salvar o maior número de vidas em caso de catástrofes. Os livros mudam as pessoas.

 

Martim P.

Uma aventura entre coelhos e fadas mágicas

A floresta estava calma e serena, o clima do anoitecer era visível e todos os animais se apressavam para voltar aos seus ninhos, tocas e esconderijos, onde estariam seguros para dormir uma boa noite de sono depois de um dia longo na floresta.

Ao ver que todos os animais já não estavam por ali, um grupo de cinco pequenas fadas aproveitou para sair do esconderijo que ficava no tronco de uma árvore. Faziam isto todos os dias ao anoitecer, saíam para fazer pequenos piqueniques, depois dançavam, brincavam juntas e também liam. Acontece que apesar de saírem do esconderijo, as fadas mantinham-se perto da árvore porque tinham medo dos coelhos da floresta. Estes, parecendo meigos e doces, tinham inveja da alegria e magia em que as pequenas fadas viviam todas juntas. Então, para se manterem seguras, elas afastavam-se do perigo, porque sabiam que os coelhos podiam fazer-lhes mal se assim o quisessem.

Uma noite, as fadas queriam nadar juntas num pequeno lago do bosque. Foram mudar as suas roupas para vestidos leves e brancos com algumas tiaras de flores na cabeça. A água brilhava com a luz do luar, era reluzente e calma, as pequenas fadas nadavam relaxadas, deixando-se levar pela maré de vez em quando. A mais velha, Aurora, deixou algumas pétalas de flores pela água para ficar mais agradável. Todas as fadas se divertiram e relaxaram bastante, mas quando ficou mais frio, foram limpar-se e vestir roupas mais confortáveis. Um detalhe interessante é que as roupinhas que usavam eram feitas de flores e raízes que elas encontravam na floresta, o que faz sentido porque todas as fadas nascem das flores.  Depois, prepararam as toalhas e os doces para o piquenique noturno que queriam fazer, trouxeram também as chávenas de chá e pequenos jogos tradicionais para jogar. Mais tarde, depois do piquenique e de passearem um pouquinho pela floresta sem se afastarem muito, as fadas voltaram para o seu lar, onde foram ler uma história.

O que elas não sabiam era que, durante todo esse tempo em que estiveram lá fora, os coelhos estavam à espreita, escondidos de modo a que elas não notassem. Quando a Aurora, a fada mais velha, ouviu um barulho no exterior, decidiu ir ver o que era para ter a certeza de que não era nada. Acontece que ela viu uma sombra daquilo que parecia uma boca de um grande monstro, mas quando viu bem quem estava à sua frente, percebeu que afinal eram apenas as orelhas grandes de um pequeno coelho. Compreendendo que era um coelho, ficou bastante assustada e com a consciência pesada, mas depois o coelho deu sinais de estar a sofrer com uma ferida na pata e quando a Aurora percebeu que ele estava a sangrar, ela acompanhou-o para dentro do esconderijo das fadas. As suas amigas fadas, Wendy, Felícia, Amara e Cristal, ficaram um pouco hesitantes no início por terem medo de estarem a ser enganadas. Porém, todas se prontificaram para ajudar a cuidar do pequeno coelho. Como não tinham nada para proteger a pequena pata do coelhinho, decidiram utilizar o belo dom que possuíam, que era a magia. O coelho, muito contente e ternurento, acabou por abraçá-las, agradecendo-lhes.

Este coelho fazia parte das famílias de coelhos que queriam fazer desaparecer as fadas da floresta, no entanto, ao ver o quão cuidadosas e bondosas elas tinham sido com ele, este decidiu voltar para a sua família, explicando como se tinha magoado na pata e como as fadas o tinham ajudado a curar-se. Os coelhos, mostrando-se gratos pela bondade das fadas, decidiram procurá-las pela floresta, e quando as encontraram, pediram-lhes desculpa por terem sido preconceituosos com elas e por as terem julgado mal. A partir dessa altura, as fadas aceitaram as desculpas e tornaram-se as ajudantes dos animais, estando dispostas a curá-los e ajudá-los no que precisassem.

Leonor C.

Uma aventura caótica de Natal

Era uma vez um gatinho chamado Rabanada. O pequeno felino era um grande rabugento e estava sempre maldisposto. Ele não gostava de muitas coisas, mas havia uma certa data que o incomodava mais do que qualquer outra coisa: o Natal. O Rabanada detestava as luzes a piscar, as decorações desnecessárias, o facto de ninguém lhe oferecer um petisco sequer da ceia e, o pior de tudo, a árvore de Natal.

A verdade é que quando a família dos seus donos passava o Natal em sua casa, todos passavam o tempo ao redor do maldito pinheiro a tentar adivinhar que presentes debaixo do mesmo iriam ganhar naquela noite. Por causa disso, acabavam por se esquecer do pobre Rabanada a noite toda e era por isso que o gatinho passava o Natal inteiro a espalhar o caos pela casa, para ganhar o mínimo de atenção. Ele era o único deixado de lado na época do ano onde é suposto estarmos todos juntos.

Quando o Rabanada viu o pinheiro pela primeira vez, ainda era muito pequenino. Primeiro, ficou confuso e pensou que os donos tivessem colocado uma árvore enorme na sala em vez de a plantarem no jardim por engano. Porém, conforme foi crescendo, sempre que via o pinheiro enfeitado e brilhante em dezembro, o sangue fervia. O gato passou a vê-lo com desprezo e como algo que tentava apoderar-se do seu território. Mal sabia ele que, naquele ano, tudo mudaria.

Na noite da véspera de Natal, ele já tinha o plano pensado como de costume. Quando os convidados chegaram para desfrutar da ceia na casa dos donos do Rabanada, não demorou muito para que o caos se instalasse em todo o lado.

O Rabanada colocou o plano em prática assim que todos se sentaram à mesa para jantar. O gato começou por derrubar os presépios dos móveis, depois prosseguiu a rasgar os vários presentes que a família tinha deixado debaixo da árvore de Natal e, por fim, “la grande finale”, saltou para cima do pinheiro da sala, derrubando-o.

O estrondo que a queda do pinheiro fez foi de tal maneira alto que, em poucos segundos, todos da casa interromperam a refeição para rapidamente espreitar o que tinha acontecido. Suponho que não seja surpresa ao dizer que quando a família viu o pequeno felino em cima da árvore derrubada no chão, todos ficaram perplexos e em choque.

O Rabanada tinha vencido a disputa pelo território na sala de estar, mas ele não sabia que a sua derrota viria logo em seguida. Um dos donos, irritado com toda a algazarra, pegou no gatinho e colocou-o no jardim da casa o resto da noite como castigo por todos os problemas que ele tinha arranjado. O Rabanada tinha acabado mais uma vez sozinho no Natal.

O felino passou muito tempo no jardim ao frio, a engatinhar cabisbaixo, arrependido pelo que fez e a contar os minutos para voltar para a sua casa quentinha e aconchegante.

De repente, ele ouviu um barulho baixinho que parecia ter vindo das plantas do quintal. Conforme se foi aproximando, mais claramente ouvia o barulho e descobriu que o que escutava eram nada mais nada menos do que miados. Tal não foi o seu espanto quando, ao desviar as plantas do caminho, encontrou uma pequena gatinha ferida. A sua patinha estava magoada, parecia estar partida, a pobre gatinha devia tê-la ferido ao saltar para o jardim da casa. O Rabanada ficou preocupado com a situação que acontecia diante de si, então decidiu ajudar a gata.

O felino aproximou-se novamente da casa e reparou que a janela da sala de jantar estava aberta, então não hesitou em saltá-la e arruinar novamente a hora da refeição. Aterrou em cima da mesa onde todos comiam e roubou uma perna de peru num movimento repentino antes de tornar a saltar pela janela para o lado de fora.

Já com o pedaço de carne na boca, tornou para ao pé da gatinha e ofereceu-lhe a perna de peru como ajuda. Não tardou muito até a família sair de casa, revoltada com o gato, pronta para lhe dar um raspanete, mas todos ficaram com o coração amolecido ao ver a cena do pequeno Rabanada a fazer uma boa ação.

Nessa noite, os donos decidiram dar um novo lar à gatinha. Ela passou a morar com eles e ganhou o Rabanada como companhia. Foi carinhosamente apelidada de Mia, já que a pequenina estava sempre a miar com felicidade e ternura. A partir desse Natal, o Rabanada nunca mais precisou de espalhar o caos para chamar a atenção, agora ele tinha uma nova irmãzinha com quem brincar e o melhor presente de Natal que alguma vez recebera.

Madalena N.

Uma aventura no meio do campo

Finalmente chegou a altura mais esperada do ano para qualquer escuteiro, o acampamento de uma semana. Eu andava muito ansiosa. Já tinha feito a lista de tudo o que era preciso: saco de cama, esteira, botas, farda oficial e de campo, estojo de higiene, sisal, faca de mato, poncho, colete refletor, cantil com água e roupa. Muito importante também, repelente para os mosquitos, toalhitas, lanterna, estojo de primeiros socorros e barritas de cereais. Fiz então a mochila, perfeitamente arrumada, com tudo no sítio, para me poder auxiliar no acampamento. Fardei-me, coloquei a mochila às costas, pus o chapéu, despedi-me da minha família e fui para a rodoviária. Apanhei o autocarro às 19h00, com destino a Santiago do Cacém, para seguir até ao Campo Técnico Monte do Paio, juntamente com todo o agrupamento.

Quando chegámos, estava noite cerrada e, para piorar, chovia. Tivemos de montar as tendas à chuva, o que não foi nada agradável. Assim que terminámos, estava na hora de descansar. Vestimos o pijama, enfiámo-nos dentro do saco-cama e adormecemos.

No dia seguinte, de manhã, levantei-me, vesti-me e fui tomar o pequeno-almoço. Nessa altura, os chefes deram-nos uma carta militar e uma bússola para fazermos um raid pelo campo, que iria realizar-se por equipas. Os chefes também indicaram que iríamos receber as coordenadas e que, em cada posto, estaria a coordenada do posto seguinte, então, metemos mãos à obra. Voltámos todos para a tenda e colocámos na mochila o essencial para o raid. Vestimos o colete refletor e seguimos viagem.

Quando chegámos aos respetivos postos, apercebemo-nos de que cada um deles tinha uma tarefa para realizarmos, identificação de 10 árvores diferentes, PLS (Posição Lateral de Segurança), descodificação de códigos (p.ex., Código Morse), passa-dois-melros e homógrafos em bandeiras, oficina de nós, entre muitas outras atividades. Correu tudo bem até que nos apercebemos de que estava a anoitecer. Decidimos ligar as lanternas. Quando olhamos ao nosso redor, já não sabíamos onde estávamos. Tentámos ver a nossa localização na carta militar e ligámos aos chefes, mas não tínhamos rede. Também não tínhamos água nem comida e estava a ficar frio. As horas iam passando. Pedimos ajuda em Código Morse, utilizando o apito e as lanternas, mas nada parecia funcionar. Então, eu lembrei-me de irmos procurar alguns paus e pinhas para fazer uma fogueira. Apanhámos o máximo que conseguimos e, com o algodão que tínhamos, embebemo-lo em álcool e ateámos fogo. A fogueira aqueceu-nos, mas não era suficiente. Lembrei-me de que colocara na mochila duas mantas térmicas, um pau e sisal. Fizemos dois abrigos. Adormecemos todos coladinhos para não passarmos tanto frio.

Entretanto, acordámos, pois ouvimos uma espécie de um grunhido muito assustador. Ouvimos algo focinhar nos nossos abrigos e quando olhámos com mais atenção, vimos um javali. Para nos defendermos, pegámos todos na faca de mato e ficámos à escuta até o deixarmos de ouvir. Nesse momento, ficámos mais tranquilos e saímos todos do abrigo para nos certificarmos de que o animal tinha fugido. Porém, de repente, a Maria começou a correr a dizer que o javali vinha na nossa direção. Em pânico, pegámos nas mochilas, o mais rápido possível, e começámos a correr como se não houvesse amanhã.

Quando analisámos o local onde estávamos, vimos uma estrada. Nela, sentámo-nos e eu comecei a chorar agarrada a um terço que tinha na farda, a pedir a Deus que alguém passasse na estrada para nos salvar. Após a oração, ouvimos novamente um ruído. Olhámos para o lado direito e vimos uma luz que parecia vinda do além. Era um carro. Para a nossa felicidade, parou ao pé de nós e o condutor perguntou-nos se estávamos perdidos. Respondemos que sim e pedimos-lhe para que nos levasse para o Monte do Paio. O senhor, confuso, disse-nos que isso ficava a 25km do local onde estávamos e que não nos podia levar para lá, mas que nos levaria à esquadra mais próxima da polícia.

Entrámos na viatura e ele lá nos deixou. Explicámos a nossa situação e os agentes levaram-nos ao Monte do Paio. Quando chegámos, estava a amanhecer. Fomos recebidos de braços abertos. Comemos, tomámos banho e cuidaram das nossas feridas. No acampamento, estavam todos muito preocupados. Soubemos que os chefes tentaram ligar-nos e alguns deles tinham pegado na carrinha e rondado a região à nossa procura.

À noite, no fogo de conselho, contámos a todos a nossa aventura e ficaram impressionados com a resistência e coragem que demonstrámos. O Chefe Nacional dos Escuteiros premiou-nos. Não é que fomos reconhecidos, a nível nacional, com a insígnia de coragem pelos nossos atos? Os nossos pais ficaram muito orgulhosos.

 

 

Carolina P.

Caminhos Entrelaçados

A Mónica conheceu o Diogo numa tarde de verão, num daqueles encontros casuais que os amigos organizam. Ela não estava propriamente entusiasmada em ir, mas a Rita, a sua melhor amiga, acabou por convencê-la “Vá lá, vai ser giro! O grupo todo vai estar lá.” E, mesmo sem grandes expectativas, lá foi.

No início, tudo parecia normal: risos, conversas de grupo, aquelas brincadeiras típicas. Mas, a certa altura, o olhar da Mónica cruzou-se com o do Diogo. Ele não era daqueles rapazes que se destacam à primeira vista, mas tinha algo diferente: um sorriso descontraído, uma presença leve e aquele charme natural que não passa despercebido. E, ao que parecia, ele também reparou nela, porque começaram logo aquelas trocas de olhares. Ela olhava e desviava. Ele sorria e olhava outra vez. Aquelas pequenas coisas que, de repente, deixam o coração a bater mais depressa.

Mais tarde, o Diogo acabou por se aproximar e começaram a conversar. A Mónica surpreendeu-se com a facilidade com que a conversa fluía. Era como se já se conhecessem há muito tempo. A conexão entre eles era evidente. Quando o dia chegou ao fim, a Mónica foi para casa com a cabeça a mil, a pensar nele e a imaginar se ele também estaria a pensar nela.

Nos dias que se seguiram, começaram a trocar mensagens. Primeiro, conversas simples e descontraídas, mas aos poucos iam ficando mais frequentes. A Mónica tentava disfarçar o entusiasmo, mas sempre que o telemóvel vibrava com uma mensagem dele, não conseguia esconder o sorriso. Foi então que o Diogo a convidou para sair e ela aceitou sem pensar duas vezes.

O encontro foi simples, mas especial. Foram beber um café, conversaram sobre a vida, partilharam risos. Não houve grandes gestos, mas havia algo entre eles que era impossível de ignorar. Quando ele a deixou em casa, a Mónica sentiu que aquilo podia mesmo transformar-se em algo mais sério.

No entanto, as inseguranças da Mónica começaram a aparecer. Sempre fora um pouco ciumenta e o Diogo, com o seu jeito tranquilo e despreocupado, parecia não perceber os sinais dela. Uma mensagem que ele demorasse a responder, ou um simples “gosto” numa foto de outra rapariga, era o suficiente para a deixar inquieta. As primeiras discussões começaram e embora o Diogo tentasse manter a calma, o temperamento explosivo da Mónica acabava por levar a melhor. Até que, numa discussão mais séria, acabaram por se afastar. Por orgulho, nenhum dos dois deu o primeiro passo para resolver a situação.

Apesar disso, a ligação entre eles não desapareceu por completo. Sempre que se cruzavam, os olhares continuavam lá e havia uma tensão que nenhum dos dois conseguia ignorar. A Mónica tentou seguir em frente, mas bastava uma mensagem ou um gesto dele para a fazer hesitar. Quando voltaram a falar, ela tentou fingir que já não estava interessada, mas não conseguiu manter a fachada por muito tempo. Acabou por deixar claro que ainda gostava dele e o Diogo, surpreendentemente, parecia estar a levar as coisas mais a sério. Até começou a considerar a ideia de um namoro.

Mas, de repente, algo mudou. O Diogo começou a afastar-se outra vez. Não desapareceu por completo, mas deixou de ser o mesmo. As mensagens tornaram-se mais raras, os encontros começaram a diminuir e a Mónica sentiu-se completamente perdida. O que teria acontecido? Será que ele tinha mudado de ideias? Será que algo tinha corrido mal?

Ela passou dias a tentar perceber. Sempre que pensava em desistir e seguir em frente, ele voltava a dar-lhe um sinal – uma mensagem inesperada, um pequeno gesto – que a fazia hesitar outra vez. Era como se ele a quisesse manter por perto, mas sem realmente se comprometer.

Cansada desta incerteza, a Mónica decidiu que tinha de seguir em frente. Merecia mais, alguém que estivesse disposto a dar-lhe aquilo que ela queria. Mas, no fundo, não conseguia afastar-se completamente. E, no último momento, quando estava prestes a desistir de vez, o Diogo deu-lhe mais um sinal. Algo que a fez parar e pensar novamente.

O que aconteceu depois? Isso ninguém sabe. Talvez eles tenham conseguido resolver as coisas e ficado juntos. Talvez o ciclo de incertezas tenha continuado. Ou talvez a Mónica tenha finalmente seguido o seu caminho.

Isabel R.

Uma aventura com direito a medalha

Final de semana a chegar e o vício pela caça começa a aumentar depois de uma semana cansativa em que a pressão e o cansaço do trabalho stressam qualquer um. Sexta à noite prepara-se o material de caça (cartuchos, espingarda, roupa, etc.) para que nada falte durante a atividade cinegética. O frio na barriga e a ansiedade fazem com que a noite de sexta-feira seja passada quase em claro. Às 5h30 da manhã de sábado, toca o despertador para nos levantarmos e iniciarmos mais uma jornada de caça.

Eu e o meu pai levantamo-nos das nossas camas quentinhas e vestimos roupas camufladas para que os animais não sintam a nossa presença. Preparamos algumas sandes para comermos durante a caçada e tomamos o pequeno-almoço. Ao sair de casa, sente-se a diferença de temperatura. Ligamos o atrelado ao jipe para levarmos a nossa melhor companhia, a Lassi, uma cadela de raça Braco Alemão, que ajuda a localizar alguma perdiz ou lebre que esteja por perto.

Finalmente arrancamos em direção à zona onde vamos caçar. Ao chegar ao local, retiramos as espingardas das bolsas, armamo-las, soltamos a cadela e formamos uma linha extensa de caçadores, que apanha grande parte da zona de caça, e vamos em busca das perdizes e lebres.

A Lassi rapidamente encontra, com o seu faro, o rasto das perdizes. Andou 200 metros e conseguiu indicar uma perdiz, que apanhámos. Seguimos caminho. Não demorou muito tempo para que a Lassi fizesse nova paragem. Era um bando de perdizes. O meu pai abateu três delas.

A meio da manhã, chega a hora de descansar um pouco as pernas e dar água aos cães. Todos os caçadores partilham algo para comer e depois regressa-se à caçada. Refaz-se a linha de caçadores. A segunda parte não correu tão bem, acabámos por abater uma lebre que, infelizmente, estava doente. Tinha mixomatose. Ao almoço, comemos num restaurante, onde nos serviram cozido de grão muito bem confecionado por duas senhoras idosas. Foi um momento de confraternização, em que todos relataram as aventuras dessa manhã de caça.

Às 7h30 da manhã de domingo, tocava o despertador novamente. Desta vez, era para irmos a uma montaria de javalis e veados com 25 postos. Acordámos mais tarde porque a montaria começava às 10h00, vestimo-nos e fomos para o pavilhão, onde seria feito o sorteio dos postos para cada caçador. Ao meu pai calhou-lhe o posto número 17 e a mim o 18. Seguiu-se o pequeno-almoço no pavilhão, onde comemos ovos mexidos com bacon frito. Antes de irmos para os postos que cercam a herdade, ouvimos a palestra, os cuidados que devemos ter e rezámos um Pai Nosso. Entretanto, os matilheiros, que estão no centro da herdade com as suas matilhas, soltaram os cães. O meu pai começou bem, conseguiu abater logo no início dois javalis. Já eu falhei um javali com cerca de 50 kg. Um desastre.

A montaria continuou e foram-se ouvindo vários tiros pela herdade. Nas redondezas, apercebi-me de uns ruídos num barranco atrás de mim, o que me deixou muito atento e com o coração aos pulos. Estaria aí a minha oportunidade? Eu tremia por todo o lado e comecei a sentir o suor a escorrer pelas costas abaixo. Cada vez chegavam mais cães. Entravam no barranco e não havia meio de saírem. Fiquei ainda mais nervoso. A qualquer momento, sairia um javali do barranco. Era grande por certo.

Os minutos que se seguiram foram de grande expectativa. Pouco depois, saiu de lá o bicho. Parecia um boi. Teria cerca de 150 kg. Carregado de nervos, concentrei-me e disparei sem demora. Um tiro certeiro e o animal caiu por terra. Foi um feito que me valeu uma Medalha de Ouro.

 

Joaquim C.

Uma aventura à procura do reino perdido

Esta história passou-se há muito tempo atrás num planeta muito distante do nosso, onde tudo era muito diferente do que é aqui, as casas, os animais e até o dialeto que as pessoas usavam para comunicar. O nome desse planeta era Martúrio. Martúrio tinha um poder inimaginável. Constituído só por ilhas, todos os anos, elas mudavam de localização. Joel era um menino que habitava em Martúrio. Era bastante aventureiro e divertido e vivia na ilha de Djodin. Esta ilha era bastante conhecida, pois era lá que viviam os melhores marinheiros de Martúrio. Desde que o avô de Joel lhe contou a lenda do reino perdido, ele sonhava em ser o melhor marinheiro da sua ilha.

Segundo o avô de Joel, há muitos anos, ele tinha ido pescar com uns amigos. Foram para o meio do mar, bastante longe da costa. Foram sem destino. Enquanto pescavam, começou uma enorme tempestade e o barco abanava imenso. De repente, viram um enorme portão do meio do mar a subir, parecia magia. Esse portão era azul, muito brilhante, revestido com imensas algas. O avô de Joel contou-lhe o quão mágico foi aquele momento, pois quando o portão surgiu, ouviu-se uma voz potente e grossa, que parecia vir lá de dentro, dizendo:

— A verdadeiro marinheiro, ser-lhe-á entregue o paraíso do reino perdido.

O avô de Joel contou-lhe que, naquele momento, só conseguia pensar em passar o portão e descobrir o paraíso. Olhava fixamente para o portão e, assim que se virou, deparou-se com uma enorme onda prestes a engolir o seu barco. Quando deu por si, o avô de Joel estava na costa de outra ilha, Veterra, a ilha vizinha de Djodin. Ficou extremamente enfurecido por não ter conseguido entrar no paraíso do reino perdido. Sem se conformar, continuou a navegar pelo oceano na tentativa de encontrar novamente o portão mágico. Procurou durante anos e anos, e nunca perdeu a esperança de que, mesmo que não fosse ele, alguém conseguisse entrar no lugar mágico.

Nesse momento, Joel prometeu a si próprio que iria concretizar o sonho do avô e procuraria o reino perdido. Elaborou um plano que consistia em navegar no velho barco do avô, recrutar marinheiros experientes e, o mais importante de tudo, esperar o tempo certo. Afinal era ainda muito novo para se aventurar pelos mares. Entretanto, o avô adoeceu e acabou por falecer, mas não sem antes de o neto lhe prometer que encontraria o reino perdido.

Com o passar dos anos, Joel tornava-se cada vez mais experiente na navegação, já que lia bastantes livros sobre o tema. Quase dez anos depois de o avô ter falecido, Joel decidiu pôr em prática o seu plano. O primeiro passo era encontrar marinheiros com quem pudesse contar. Concluiu que o melhor era começar a procurar em Djodin e assim fez. Encontrou Mar, uma marinheira experiente em barcos de navegação e com um ótimo espírito de equipa. Mais tarde, encontrou Brino, um marinheiro que sempre navegou por conta própria e que era bastante experiente em casos de emergência em alto mar. A primeira parte do plano estava concluída, faltava agora a parte mais importante, descobrir onde ficava o portão mágico para o paraíso do reino perdido.

Como a localização das ilhas alterava anualmente, Joel precisava de um mapa no qual constasse a localização exata do portão mágico. Foi então que decidiu procurar na biblioteca local. Depois de uma busca de muitas horas, conseguiu encontrar o mapa perfeito. Foram precisas cinco horas de navegação em alto mar para conseguirem chegar perto do local do portão mágico. Contudo, houve um senão, iniciou-se uma enorme tempestade. No entanto, Joel estava preparado e colocou Brino no comando. Este controlou o barco o tempo suficiente para que pudessem chegar até ao portão. O portão era realmente formoso, tal como o avô lhe contara.

A frase que o avô de Joel ouvira outrora repetiu-se:

— A verdadeiro marinheiro, ser-lhe-á entregue o paraíso do reino perdido.

Foi nesse momento que os três corajosos marinheiros, talvez ligados ao mar nas suas vidas passadas, conseguiram reunir esforços e, com espírito de equipa, enfrentaram o desconhecido e ultrapassaram as adversidades. Saltaram destemidamente e alcançaram o paraíso do reino encantado. 

 

Lourenço M.

A carta que nunca te escrevi

Hoje ao entrar na tua casa não te vi. Pensei que era mais um dos meus pesadelos durante a noite, mas era só a realidade de que te tinha perdido. Passados quase três anos, escrevo-te uma carta especial.

Sei que cresce dentro de mim uma saudade enorme de te ter aqui comigo, mas, no fundo, sei que nunca mais te voltarei a ver. Aos fins de semana, é hábito passar por onde agora pertences. Não sei se me ouves, se me vês, mas sei que podíamos fazer planos que em pequenina idealizava e sem ti não fazem mais sentido. Sentei-me no tapete em frente à janela do quarto e dei por mim a relembrar a nossa bonita história. Sofrias de uma doença neurológica e ajudar o avô a cuidar de ti fazia parte do meu dia a dia porque sei que farias o mesmo por mim.

Nunca te conheci como a pessoa que o avô e a mãe mencionam. Aquela pessoa que nunca parava, que tinha sempre tarefas para fazer. Conheci-te na pior fase da tua vida. Estavas mal, decadente mesmo, não parecias tu, a mulher cheia de vida que eras. Os teus últimos anos de vida foram uma montanha russa sempre a descer.

A partir daí, começaste sempre a piorar cada vez mais. Nos últimos anos, tivemos que pedir apoio ao lar, pois estavas muito debilitada e ausente, características da tua doença. Depois daquele último Natal, em que posso dizer que foi passado com toda a família, deixaste-nos.

Naquela manhã fria e ventosa, que recordo perfeitamente, estava a ver televisão quando o avô nos bateu à porta. Vinha com pressa e em aflição, pois tinhas ido para o hospital.

Levantei-me, vesti umas roupas que agarrei sem demora, comi e fui para a tua casa sem perceber bem o que estava a acontecer. Quando cheguei, estavas tu a ser levada pelos bombeiros, estavam também as funcionárias da instituição, a mãe e o avô. Passaste semanas naquele quarto de hospital, e sim nunca mais te vi. Não sei se foi falta de coragem ou se simplesmente não queria ver o estado em que te encontravas.

Foi a pior fase da minha vida. Nos dias seguintes, tentava escolher o meu melhor olhar para que não reparassem no meu desgosto.

Hoje, ao abrir os álbuns de fotografias que estão debaixo do móvel da televisão, vejo que era tão feliz, mas não sabia. Relembro aquelas idas ao campo, para a apanha da azeitona, com muito carinho. As vezes em que me davas aqueles banhos quentinhos, os passeios que fazíamos e em que querias sempre empurrar o meu carrinho, tudo quando era pequenina. Os almoços que fazíamos no meu aniversário ou as almoçaradas em grande em que conseguíamos juntar todos os primos, sempre na Amieira. Os dias em que dormia a sesta na tua cama entre ti e o avô. 

Agora está a chegar a época Natalícia, mas já não faz mais sentido comemorar o Natal sem ti. Tudo perdeu a graça, o meu aniversário, o da mãe, o do avô e sobretudo o teu. Éramos para comemorá-los, mas não, estamos todos fechados em casa. Parece que nada mudou, mas tudo mudou. Aos poucos, até a horta mudou. As árvores secaram, o nosso Mickey também partiu, o trator passou meses avariado, o avô rasgou uns tendões no braço, até a rua está mais vazia. Tudo mudou com a tua perda.

Tenho muita pena desta mudança repentina, mas tenho muito orgulho de te ter podido chamar de avó.

 

Madalena C.

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Matemática Literária

Dia Internacional da Matemática | 14 de março

Desafios:

​A) Em 77 palavras, escrever um texto sobre uma viagem. As personagens são figuras geométricas, sejam elas planas ou tridimensionais.

 

 

B) Em 77 palavras, escrever um texto onde os números que se seguem lá constem: 1,  2,  3,  4,  5,  6,  7,  8,  9, 10. 

Santiago S.

 

 

Durante a viagem, olhava para a esfera Generosa porque era a mais bonita e mais completa da excursão. Ninguém ousava ultrapassá-la, todos circulavam atrás dela e ai de quem rebolasse à sua frente.

Eu também era uma esfera, mas sentia-me como uma circunferência lisinha e espalmada. Passei as férias a comer para aumentar a minha área, mas para ficar esbelta, acabei por me transformar numa elipsoide, gorda para os lados e desprovida de altura.

Maldita inveja feminina…

Madalena N.

 

 

O quadrado e o retângulo eram o casal mais fofo de figuras geométricas: ambos com quatro lados e quatro ângulos, par ideal!

No Dia dos Namorados, os dois pombinhos planearam uma viagem muito romântica ao redor do mundo. Visitaram as grandes pirâmides do Egito, os iglus semiesféricos do Ártico e, por fim, desfrutaram de um jantar delicioso em Itália, onde comeram muitas pizas circulares.

Foi uma viagem verdadeiramente única, porque não teriam mais dinheiro para pagar outra…

Miguel F.

Um triângulo escaleno decidiu visitar o maior monumento de Lisboa, os paralelepípedos gigantes. Entrou no avião Pitágoras e seguiu em linha reta para a capital. Depois apanhou o expresso Arquimedes, mas, a meio do caminho, a bomba de parafuso explodiu. O triângulo sobreviveu e percebeu quem fora a sabotadora: uma semiesfera maníaca com tendências assassinas. Obcecada por ele, perseguiu-o. Ainda o ameaçou com uma parábola, mas quando foi convidada para visitarem juntos os paralelepípedos, aceitou e redimiu-se.

Carolina P., Joaquim C. e Madalena C.

 

Os trigémeos triângulos, Equilátero, Isósceles e Escaleno, faziam parte de uma máfia muito perigosa, a máfia Matemática.

Viajaram até Siracusa para assassinar uma quadrilha de origamis de gatos. Chegando ao destino, o primeiro desafio foi encontrar a quadrilha nas ruas paralelas e perpendiculares de Siracusa. Depois, o trigémeo Isósceles calculou as parábolas dos tiros para assassinar os bandidos.

O objetivo da viagem foi atingido com sucesso e os trigémeos continuaram a investir no conhecimento para resolver conflitos.

Lourenço M.

 

Certo dia, um círculo decidiu rodar por uma rua para passear.

Como era observador, reparou numa parede quadrada, formada por vários tijolos retangulares. O círculo pensou na hipótese de encontrar uma parede quadrada em que se pudesse encaixar. Foi então que começou a olhar à sua volta para procurar a Matemática. Viu várias figuras geométricas nas casas e nos jardins, até que reparou num grafíti numa parede onde havia círculos dentro dos quadrados.

Aproximou-se e encaixou-se disfarçadamente.

Tomás C.

Um triângulo com pouca base e altura tinha o sonho de disputar a liga de basquete critério Lado, Lado, Lado. Era a maior liga, disputada pelos triângulos mais famosos. Tentou aprimorar técnicas, mas apercebeu-se que não adiantava ser bom se não tivesse altura suficiente. Inscreveu-se então no ginásio Pitágoras e, com a ajuda de um PT, conseguiu aumentar a altura e tonificar os músculos. Realizou finalmente o sonho, tornando-se o melhor de sempre. Que viagem para crescer!

Madalena N.

 

Senhoras e senhores, meninos e meninas, sejam muito bem-vindos ao maior e melhor número de circo do mundo.

Esta noite, das seis às oito, será feita história com várias exibições de malabarismo: manipulação de quatro machados e nove facas; dois nadadores farão uma corrida de ida e volta numa piscina de sete metros de comprimento, onde haverá dez piranhas e, por último, três ferozes tigres saltarão por entre cinco anéis de fogo.

Não percam um espetáculo destes!

Margarida C.

 

A avó Olga, quando tem de ir ao supermercado, vai às oito da manhã porque há menos pessoas. Se houver mais de seis, já é demais.

Passa a vida a resmungar: o azeite está caro, nove euros; as bolachas, cinco euros; o carrinho tem quatro rodas, mas só três funcionam…

Na hora de pagar, leva um dióspiro, dois pães e sete docinhos para alegrar os netos.

No final de contas, a nota de dez euros não chegou.

Joaquim C.

 

Uma caçada emocionante! A seis de setembro, das sete às dez da manhã, houve um momento de grande alegria e animação entre o meu pai e nove amigos. Também estive.

Foi numa herdade, na Vera Cruz, na Quinta dos Cinco Sentidos, que se realizou a caçada. Abatemos dois javalis e três veados. Às quatro da tarde, começou a segunda parte.

Por fim, juntámo-nos para comer uma bela feijoada às oito da noite e ver o glorioso Benfica.

Madalena C.

 

Mais um gato em casa! O pai não gostou. Não bastavam dois e agora temos três. Consegui convencê-lo a ficar com o das sete bolinhas de pelo branco.

Quatro dias depois, o floquinho desapareceu por uma das nove janelas da sala. Dez minutos à procura… Na rua, outros oito e não apareceu. Cinco horas depois, ouvimos miar no quarto. Procurámos por todo o lado. O som vinha debaixo da cama. Abrimos as seis gavetas e ele apareceu.

Leonor C.

 

Benjamim, de dez anos, passou o dia a comer legumes e sentia-se desejoso de um docinho.

Sozinho em casa, aproveitou para criar a sua própria receita. Foi buscar um tacho e cozinhou os ingredientes escolhidos: oito frescos de geleia, quatro colheres de mel, três morangos, seis caixas de cereais e cinco taças de açúcar.

Depois de saborear a papa, desde as sete até às nove da noite, teve vómitos e levou dois ralhetes da mãe. Um desastre!

Carolina P.

 

Pensei fazer um bolinho de aniversário para a minha sobrinha de dois aninhos. De três andares? Que exagero para uma miúda!

Para isso, fui ao supermercado. Passei por quatro até encontrar um aberto. Cheguei a casa por volta das cinco. Em vez de colocar seis colheres de farinha, pus sete. Abusei no fermento e deitei oito colheres. Como devem calcular, nove minutos depois a massa transbordou.

Finalmente, voltei ao supermercado e comprei-lhe um bolo de dez euros.

Santiago S.

 

Via-te isolada na maior parte do tempo. Podiam ser dois ou três intervalos de quatro, cinco ou dez minutos e tu nunca tinhas companhia.

Apresentei-te aos meus seis ou sete amigos. Tu eras a minha número um, mas para ti eu devia ser o teu número oito ou nove. Estive a chorar durante várias horas por causa da forma como me substituíste.

Depois de te conhecer, concluo que tu mudas de ideias como quem muda de roupa.

Miguel F.

 

Foi um dia para esquecer. Andava a passear pelo pinhal, quando subitamente um ramo com dez pinhas deixou cair quatro.

Acertaram-me todas na cabeça, desmaiei e parti cinco costelas. A minha sorte foi que três ambulâncias passavam na estrada ao pé e, em dois minutos, fui para o hospital.

Demorei oito semanas e seis dias para recuperar, só voltei para casa dia nove de dezembro.

A partir daí, sempre que via uma pinha, corria a sete pés.

Tomás C.

 

Ontem cheguei a casa e perguntei à minha mãe se podia comprar um telemóvel novo. Disse-me que só daí a dois meses.

Senti-me frustrado. Percorri a casa, em fúria, e disse três palavras que não devia. Parti quatro pratos dos gatos. Desmontei cinco ou seis cadeiras para acalmar. Irritei os meus sete gatos, que dormiam.

Entretanto, por volta das oito e dez, chegou o meu pai. Pôs-me de castigo e fui para a cama às nove horas.

A arte de saber dizer não!

É essencial estabelecer prioridades e limites.

Em 77 palavras, os alunos de 9.º ano escreveram sobre «a arte de saber dizer não».

Os textos correspondem a dois triângulos sobrepostos em número de palavras por verso.

Margarida C.

Não quero.

Não quero seguir padrões,

Mas querem moldar o meu ser.

Para cada uma das minhas roupas, um olhar.

Uma simples caminhada na rua é motivo de longos comentários.

Julgada é o que sou todas as vezes em que me veem.

Nada me afeta.

Aprendi a saber dizer não!

Aprendi a ignorar olhares e comentários desnecessários.

Visto-me de uma forma diferente e está tudo bem.

Sinto-me bem comigo mesma dentro ou fora dos padrões da sociedade.

Mariana C.

Bem acompanhada,

Sei perfeitamente dizer não:

Não vou, não saio, não faço.

Nada me consegue tirar de junto de ti.

Contigo aprendi a dizer não ao que não faz sentido,

Ao que não gosto, ao que não quero e não me motiva.

Sei dizer não,

Dizer que não mais facilmente.

Conheço o meu querer de outra forma,

O que gosto, o que quero e me motiva.

O teu toque faz-me dizer-te que sim e não aos outros!

Joaquim C.

Aos petiscos,

Acompanhados de uma pinga,

Quem é que sabe dizer não?

E um queijinho mais ovos mexidos e linguiça

Que bem que caem no estômago enquanto vejo o Benfica!

Pior é sair da taberna embriagado, cantarolando à noite e ouvindo reclamações…

Mas o vício

Da pinga e dos petiscos

Deixa-me debilitado e sem saber que fazer.

Os níveis de colesterol sobem drasticamente, sinto-me a adoecer…

Tenho de arranjar coragem, só há uma solução, saber dizer-lhes não!

Carolina P.

Dizer não

É uma arte sábia.

Aquela pirralha está sempre a brincar!

Invade-me o quarto sorrateiramente para ninguém dar conta,

Tira o que quer e lhe apetece e foge rapidamente.

Quando dou conta, já não há volta a dar porque escondeu tudo.

Ainda nos aborrecemos,

Mas no final vence sempre.

Até que tive de lhe dizer não.

Essa palavra amargamente cruel custou a sair da boca.

Ficaram todos chocados ao ouvi-la, mas a pirralha acabou por aceitá-la.

Miguel F.

Dizer não,

Uma ação muito difícil,

Com os amigos sempre a incentivar.

Sem saber o que devia dizer, resolveu aceitar,

Pois se recusasse, sentir-se-ia mal e não custava nada experimentar.

Quando começou, não parava, um vício que veio de não saber negar.

Parecia estar perdido,

Mas um dia lá percebeu,

Se não as deixasse, acabava por morrer.

Arranjou forças e, naquele dia, conseguiu enfrentar o problema.

Finalmente foi capaz de recusar, afastou-se das drogas e más companhias.

Érica P.

Nunca acreditei.

Sempre tive uma razão.

Amizades verdadeiras ficam, já outras não.

A verdade vê quem quer na sua vida.

Tudo muda no dia em que abrimos os olhos verdadeiramente.

Um não é sempre uma opção para quem precisa de o dizer.

Minha nova versão:

Coragem e carisma na vida!

Sim, cada dia que passa, melhorarei completamente.

Hoje em dia, não é fácil ser boa pessoa,

Esquecer tudo o que passei por causa de falsidade nunca quererei.

Leonor C.

Que confusão!

Ou sim ou não…

Se disser que sim, vou arrepender-me,

Ao dizer não, tenho medo de aborrecer alguém.

Quem me dera não me importar com as vontades alheias.

Às vezes, tenho vontade de dizer não e sair logo a correr,

Mas há consequências.

Depois insistem, perguntam “porque não?”,

Ainda dizem que sou chata por isso.

Não é não, sim é sim! Não vou justificar!

Qualquer dia, faço greve de “sim”, só faço favores à mãe!

Santiago S.

Não posso!

Chega de ser bom.

Sempre fui sincero, nunca te maltratei.

Pareces fofa e inofensiva, mas sabes como enganar.

Não soubeste retribuir e eu é que me dei mal.

Tentaste roubar-me os amigos, contudo se não fosse eu não os conhecias.

Fria e calculista,

Não passas de uma imitadora.

Apunhalaste-me pelas costas enquanto eu te abraçava.

Isto só aconteceu por não perceber que és tóxica.

Não posso continuar com esta amizade, arranjarei força para a rejeitar.

Martim G.

Não dá

Não consigo dizer não

Sou uma pessoa que quer ajudar

Ainda que não tenha ninguém para me ajudar

Não suporto ver as pessoas tristes, mesmo sendo uma delas

Gosto de ver todos felizes comigo embora, às vezes, eu não esteja

Dói-me o corpo

Dói de tanto correr atrás

Tenho que pensar melhor antes de agir

Tenho que saber dizer não e assim conseguir sobreviver

Vou aprender a colocar-me em primeiro lugar, doa a quem doer

Martim C.

Custa dizer,

Custa dizer que não,

Não aos meus treinos de futebol,

Já que sem eles não consigo viver feliz.

Pratico esse desporto desde os meus quatro anos de idade.

A partir de uma simples brincadeira, tornou-se um desafio tentar ser melhor.

Há dias que

Penso, porém, em dizer não

Uma vez que também tenho de estudar,

Pois os resultados na escola não aparecem sem empenho.

Por muito que me custe, tenho de dizer não ao futebol.

Inês P.

Às vezes,

Custa-me muito dizer não,

Mas, por vezes, é mesmo necessário.

Chego cansada da escola após um longo dia

E lá estão os meus pais a fazer constantemente pedidos.

Certo dia, ganhei então coragem de lhes conseguir responder com um não.

Pois, é assim…

Vida de filha é complicada.

Os pais não gostam de ouvir não

Nem que seja por causa de algo da escola.

Parece que essa simples palavra é sempre uma ofensa para eles.

Inês C.

Não mesmo!

Odiava dizer tal coisa,

Gostava de falar e receber sorrisos.

Talvez por isso me achassem assim tão ingénua

Até ao dia em que alguém me pediu dinheiro emprestado.

Não hesitei, pois confiava muito nesse amigo e não vi segundas intenções.

A bondade cegou-me.

Ele prometeu que pagaria depois.

Os dias passavam e dinheiro nem vê-lo…

Fiquei sem o dinheiro e sem o meu amigo.

Daí em diante aprendi a dizer não mesmo que me custasse.

Leonor N.

Maldita irmã

Sempre a tentar chantagear-me.

De cinco em cinco minutos, havia

Um pedido, mais uma chantagem e assim vivíamos.

Quando eu tentava dizer-lhe não, ouvia-a de imediato a gritar.

Gritava desesperadamente pela mãe, fingindo, como se estivesse a levar uma sova.

Cansei-me desse comportamento.

Um dia disse-lhe “Grita mais!”.

Ela calou-se, ficou em silêncio e quieta.

Não estava à espera que eu rejeitasse o pedido.

Quando a palavra não saiu da minha boca, consegui ser respeitada.

Maria S.

Dizer não.

Não consigo dizer não,

Especialmente quando é à minha irmã.

Às vezes, estou mesmo muito concentrada a estudar

E ela pede-me para brincarmos porque não quer brincar sozinha.

Sei que preciso de lhe dizer que não, que tenho de estudar.

Mas é assim,

Quando se trata dos pequenos,

É mais fácil dizer a palavra sim…

Hoje, porém, disse-lhe não, mesmo vendo a tristeza dela…

Prometi-lhe que brincávamos depois de eu estudar, embora não tivesse vontade.

Madalena H.

Nunca conseguia.

Era difícil, não saía.

Todos os dias, dizia que sim.

Mesmo com muitos pedidos, o sim nunca faltava.

Sempre pronta a ajudar, de um lado para o outro,

Às vezes, gostava de dizer não, precisava disso, mas não conseguia mesmo.

O sim persistia.

Já não aguento, estou cansada.

Agora é assim, eu em primeiro lugar.

Depois de muitos erros cometidos, aprendi a dizer não.

Hoje em dia, já o digo com mais frequência e firmeza.

Camões, Engenho e Arte

Comemorações do V Centenário do Nascimento de Camões

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Alunos de 9.º Ano

(Re)Criando Camões

A propósito das comemorações do V Centenário do Nascimento de Camões, os alunos de 9.º ano criaram, ao longo do 1.º período, poemas que estabelecem pontes entre o clássico e o moderno a partir do diálogo entre a obra camoniana e linguagens contemporâneas.

A Lírica Camoniana

A lírica camoniana compreende um conjunto de poesias muito diversificadas tanto a nível temático como a nível formal. Distribuem-se por composições de medida velha, integradas na tradição da lírica peninsular, e composições de medida nova, que adotam as formas que chegaram a Portugal vindas de Itália. Os temas tratados são muito variados e ricos. Entre eles, podemos destacar a mulher, o amor, o desconcerto do mundo, a natureza e a reflexão sobre a vida pessoal.

https://ensina.rtp.pt

Poemas de Camões e recriações dos alunos

Luís de Camões

Ao desconcerto do Mundo

 

Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E, pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.

Tomás C.

Ao desconcerto do mundo

 

Alguns vi sempre passar

Na vida fácil do copianço,

Vi-os sempre a arriscar,

A avançar sem falhanço,

Felizes sem marcas deixar.

Larguei por isso o marranço

E logo me fui estrear,

Fui avisado, mas fui tanso

Neste meu mundo de azar,

Onde ao contrário avanço.

Madalena N.

Ao desconcerto do mundo

 

As vítimas vi escutar

Na escola ofensas socadas

E, para mais me espantar,

Agressores vi afirmar

Inocência em ciladas.

Tentando impedir assim

O mal de ser espalhado,

Fiz queixa, mas fui troçado.

Parece que, para mim,

Anda o mundo baralhado.

Luís de Camões

A um fidalgo que lhe tardava

Com uma camisa galante que lhe prometera

 

Quem no Mundo quiser ser

Havido por singular,

Para mais se engrandecer,

Há de trazer sempre o dar

Nas ancas do prometer.

E já que Vossa Mercê

Largueza tem por divisa,

Como todo o mundo vê,

Há mister que tanto dê,

Que venha dar a camisa.

Matilde C.

A um tratante que não cumpriu

Com a jura de amor eterno que fizera

 

Quem no mundo quiser amar

E em troca ser respeitado

Não deve à toa prometer.

Ninguém merece no altar

Ficar sozinho a chorar

Por quem não quis aparecer.

Um amor com duas caras

É somente pura ilusão.

As atitudes devem ser claras,

Com bondade no coração.

Carolina P.

A uma vizinha que me tardava

Com um saco de limões que me prometera

 

Quem no mundo quiser ser

Mentiroso e desumilde

Observe a minha vizinha

Que não cumpre a palavrinha.

Prometeu-me alguns limões

Para um refresco fazer,

Mas o raio da mulher

Esqueceu-se da promessa

E nunca mos veio trazer.

Quem promete fica a dever!

Luís de Camões

Vida de minha alma!

 

Dois tormentos vejo

Grandes por extremo:

Se vos vejo, temo;

E se não, desejo.

Quando me despejo

E venho a escolher,

Se temo o desejo,

Desejo o temer!

Inês P., Madalena H., Maria S., 

Rafael C. e Tomás L.

Vida de estudante!

 

Dois pesadelos enfrento

Bem grandes por sinal:

Se estudo, aborreço-me

E se não, sinto-me mal.

Ó rico TPC do inferno,

Continuas por cumprir,

Fechado quero o caderno

Ou será que o devo abrir?

Luís de Camões

Se Helena apartar

Do campo seus olhos,

Nascerão abrolhos.

 

A verdura amena,

Gados que pasceis,

Sabei que a deveis

Aos olhos de Helena.

Os ventos serena,

Faz flores de abrolhos

O ar de seus olhos.

 

Faz serras floridas,

Faz claras as fontes:

Se isto faz nos montes,

Que fará nas vidas?

Trá-las suspendidas,

Como ervas em molhos,

Na luz de seus olhos.

 

Os corações prende

Com graça inumana;

De cada pestana

Uma alma lhe pende.

Amor se lhe rende

E, posto em joelhos,

Pasma nos seus olhos.

Madalena C.

Se Helena se afastar

Um pouco dos meus olhos,

O coração fica a saltar.

 

Do campo se aproxima

E no meio do pasto

Anda Helena sorrateira

Com os seus olhos azuis,

Caçando sem canseira.

As horas vão passando

E ao sol vai brincando.

 

É uma gata encantadora,

Com muitos pretendentes,

No amor é arrasadora,

Mas eles ficam contentes.

Lutam todos por Helena

Sempre com esperança

De protagonismo em cena.

 

Óscar ou Sebastião?

Quem roubará o coração

A Helena de olhos azuis?

O Óscar é barrigudo

Além de bochechudo.

Charmoso é o Sebastião,

Mas tem corpo de anão.

Luís de Camões

​​​Está o lascivo e doce passarinho

Com o biquinho as penas ordenando,

O verso sem medida, alegre e brando,

Despedindo no rústico raminho.

O cruel caçador, que do caminho

Se vem calado e manso desviando,

Com pronta vista a seta endireitando,

Lhe dá no Estígio Lago eterno ninho.

Desta arte o coração, que livre andava,

(Posto que já de longe destinado)

Onde menos temia, foi ferido.

Porque o Frecheiro cego me esperava,

Para que me tomasse descuidado,

Em vossos claros olhos escondido.

Margarida C.

Está o lascivo e doce passarinho

Pequeno e de pena muito azulinha

Cantando sobre a estreita janelinha

Como se tivesse encontrado o ninho

 

Aguarda uma carta para levar

A uma certa donzela muito amada

Escrita com letrinha arredondada

Que a fará naturalmente sonhar

 

Maravilhada com aquele amor

Numa folha de papel demonstrado

Espera o passarinho encantador

 

Como o Cupido e sem qualquer canseira

Para aquecer um coração isolado

O passarinho ultrapassa a fronteira

Luís de Camões

Enforquei minha Esperança;

Mas Amor foi tão madraço,

Que lhe cortou o baraço.

 

Foi a Esperança julgada

Por setença da Ventura

Que, pois me teve à pendura,

Que fosse dependurada:

Vem Cupido com a espada,

Corta-lhe cerce o baraço.

Cupido, foste madraço.

Leonor S.

Enforquei minha esperança

De vir a amar alguém

Que fosse de confiança.

 

Vi o amor derramado

Longe do meu amado

E o Cupido com intenção

Acertou-me no coração.

Como uma flor a crescer

E ouvindo os passarinhos,

A esperança vi renascer.

André V.

Enforquei minha esperança

De desistir de um sonho

Isso seria medonho

 

Lutarei sem desistir

Um sonho quero realizar

Uma vida melhor alcançar

E todo planeta conquistar

Num dos três grandes a jogar

E a Bola de Ouro ganhar

Lutarei sem desistir

Inês C., Maria S. e Martim F.

Enforquei minha esperança

Podia ter sido hoje

Iludi-me com confiança

 

A riqueza foge de mim

O que já é habitual

Bem olho para o boletim

Mas nenhum número é igual

Revi tim-tim por tim-tim

E voltei a fazer asneira

Terei sorte sexta-feira?

Madalena H. e Tomás F.

​​​Enforquei minha esperança

De um dia vir a ser rico

Bem mais do que a vizinhança.

 

Foi dinheiro desperdiçado

Em jogo descontrolado

E de aposta em aposta

Me enforquei sem baraço.

Vivi na doce ilusão

De ganhar sem trabalhar,

Desgraçado sou e madraço.

Bruno R. e Guilherme A.

​​​Enforquei minha esperança

Por perder toda a poupança

E não poder ir a França.

 

Aquela noite foi de esquecer

Após tanto dinheiro perder

Naquele casino amaldiçoado

Pela ganância fui tramado.

Quando apostei o mealheiro

Perdi logo o guito inteiro

Perdi França, fui interesseiro!

Inês P. e Tomás L.

​​Enforquei minha esperança

De uma viagem em criança

Na memória ficar

 

Em viajar o pai pensou

E a mãe logo concordou

Eu fiquei sem perceber

Que iam eles escolher

Alemanha ou Angola

Moçambique pode ser

Viajarei sem esquecer?

Luís de Camões

Verdes são os campos,

De cor de limão:

Assim são os olhos

Do meu coração.

 

Campo, que te estendes

Com verdura bela;

Ovelhas, que nela

Vosso pasto tendes;

De ervas vos mantendes

Que traz o Verão,

E eu das lembranças

Do meu coração.

 

Gado, que pasceis

Com contentamento,

Vosso mantimento

Não no entendeis;

Isso que comeis

Não são ervas, não:

São graças dos olhos

Do meu coração.

Alice C., Andrea I., Filipa R., 

Gonçalo N., Mariana C. e Vicente R.

Preta é a noite

Da cor do apagão

Assim são os olhos

Do meu irmão.

 

Tenho uma família enorme

Que cabe toda no coração

Todos adoro sem exceção.

Às vezes zango-me imenso

E apetece-me logo fugir

Mas paro, penso e repenso

Em quem me dá o pão

Amor, carinho e perdão.

 

As brigas de irmãos existem

E, por vezes, são violentas,

Quando os pais assistem,

Deixa de haver tormentas.

Ao jantar a guerra regressa

Com um olhar a provocar,

Cruzam-se os olhos depressa

Para novo duelo começar.

Santiago S.

Verdes são os mares,

Como o verdilhão,

Assim são os olhos

Do meu chuchuzão.

 

Ondas que rebentam,

Estrelas-do-mar

Que ali irradiam,

Uma voz a bailar

Tão bela a soar,

Ondas do cabelo

Eu contemplo e são

Do meu chuchuzão.

 

Recifes de corais,

Grande multidão,

Oceanos tais,

Pintados à mão.

Isso que limpais

Não são algas, não:

É água dos olhos

Do meu chuchuzão.

Luís de Camões

Perdigão perdeu a pena

Não há mal que lhe não venha.

 

 

Perdigão que o pensamento

Subiu a um alto lugar,

Perde a pena do voar,

Ganha a pena do tormento.

Não tem no ar nem no vento

Asas com que se sustenha:

Não há mal que lhe não venha.

 

Quis voar a uma alta torre,

Mas achou-se desasado;

E, vendo-se depenado,

De puro penado morre.

Se a queixumes se socorre,

Lança no fogo mais lenha:

Não há mal que lhe não venha.

Joaquim C.

Perdigão perdeu a pena

Não há cão que não o fareje.

 

 

Perdigão que foi encontrado

Das estevas saiu rápido

Para não ser agarrado

Por aquele inimigo ávido.

Atrás dele ia ladrando,

Correndo muito e saltando,

Mas não foi nunca apanhado.

 

Tanto voou o perdigão,

Que nem mesmo o caçador,

O melhor atirador,

Lhe conseguiu pôr a mão.

Foram três tiros mal gastos

Que o safaram do terror

De terminar no fogão.

Luís de Camões

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E enfim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Miguel F.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

Mudam-se escolhas e muda a pessoa,

Comigo a mudança foi sendo boa,

Adquirindo novas capacidades.

 

Sofre-se sempre com a novidade,

Há diferença naquilo que faço:

No passado, permanece o fracasso,

No presente, ganha-se humildade.

 

A vida enche-se de mil aflições

E o que um dia me pareceu tão fácil

Coloca-me agora interrogações.

 

Mas como sou bastante persistente,

Apesar de também um pouco frágil,

Supero cada obstáculo crescente.

Luís de Camões

Descalça vai para a fonte

Leonor pela verdura;

Vai formosa e não segura.

 

Leva na cabeça o pote,

O testo nas mãos de prata,

Cinta de fina escarlata.

Sainho de chamalote;

Traz a vasquinha de cote.

Mais branca que a neve pura;

Vai formosa e não segura.

 

Descobre a touca a garganta,

Cabelos de ouro o trançado,

Fita de cor de encarnado,

Tão linda que o mundo espanta;

Chove nela graça tanta

Que dá graça a formosura;

Vai formosa e não segura.

Martim C., Matilde F. e Samuel R.

Andando vai para a escola

Leonor pela calçada

Vai amuada e bem arranjada

 

Leva uma curta minissaia

E um top preto brilhante

A delinear a cinturinha

Vai toda radiante

Despertando a atenção

De qualquer rapariguinha

Com a sua bota elegante

 

Anda no décimo ano

Mas gosta pouco de estudar

Vai à escola só bisbilhotar

E também namoriscar

Nas aulas em vez de trabalhar

Fica na lua a pensar

Com quem se vai encontrar

Luís de Camões

Aquela triste e leda madrugada,   

Cheia toda de mágoa e de piedade,

Enquanto houver no mundo saudade

Quero que seja sempre celebrada.

 

Ela só quando, amena e marchetada,

Saía, dando ao mundo claridade,

Viu apartar-se de uma outra vontade,

Que nunca poderá ver-se apartada.

 

Ela só viu as lágrimas em fio,

Que de uns e de outros olhos derivadas,

Se acrescentaram em grande e largo rio;

 

Ela viu as palavras magoadas,

Que puderam tornar o fogo frio

E dar descanso às almas condenadas.

Leonor C.

Aquela triste e leda madrugada,

Por todos lamentada, comovente,

Já cheia de saudade permanente,

Desejo que assim seja relembrada.

 

Houve uma paz sentida no verão,

A convivência, os sorrisos duraram,

Momentos inesquecíveis marcaram

Eternamente este meu coração.

 

Pela nossa partida já sofremos,

Agora ao lar nós vamos regressar,

Vamos voltar para onde pertencemos.

 

Longe da bela casa de verão,

Que será para sempre recordada,

Pelos bons momentos de diversão.

Luís de Camões

Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor,
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Lourenço M.

Amor é um fogo que arde sem se ver,

É ver de forma muito diferente:

É andar acordado, mas dormente,

É querer o que não se pode ter.

 

É ter prazer em dar sem receber,

É ser rico mesmo sem ter dinheiro,

É gostar de cheirar não tendo cheiro,

É um sofrimento que se quer ter.

 

É tristeza com sabor a ilusão,

É paixão que não se pode conter,

É sentimento que abre o coração.

 

Mas como fazer para não sofrer?

Morrerei sem entender o que sinto?

O amor é assim, doa a quem doer!​

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Após a leitura e análise do poema “Ó sino da minha aldeia”, de Fernando Pessoa, os alunos dedicaram 77 palavras ao sino. Eis o resultado.

O Sino

1

Madalena N.

Erguido no alto da torre,

solitário e firme,

fala o sino.

 

Pesa o silêncio, tornando-o som.

Mas o som é mais do que apenas barulho;

é uma lembrança de que estamos aqui,

no mesmo instante,

a viver o mesmo minuto.

 

O sino é a voz

que fala para todos

e por todos nós.

 

Mas ninguém pára para ouvi-lo.

 

Quando o seu toque final

deixa de ressoar,

o sino, tristemente,

volta a aguardar

a hora certa para falar.

2

Naíma R.

Ó sino, sino da minha vila,

já voltaste a tocar afinado,

apenas torço para que

não seja a finados.

 

O teu toque é escandaloso,

irritante muitas vezes,

mas também tem

sentimentos escondidos.

 

Podes anunciar as horas

ou, por vezes,

anunciar lágrimas,

ou uma bela nova esposa.

 

Ó sino, tu que me trazes ódio,

mas também a esperança 

do amor.

 

Ó sino,

o teu toque

é alegre ou triste?

As lágrimas

que daqui consigo ouvir

são de sofrimento?

3

Matilde F.

Ó sino velho,

tocas quando chego,

tocas quando abalo.

 

Ó sino velho,

em ti nunca reparei

e um poema te escrevo.

 

Ó sino velho,

como é que me despertas

tal sentimento?!

 

Ó sino velho,

a cada badalada tua

distancias-me de um sonho 

que já foi realidade.

 

Ó sino velho,

o teu som arrastado

traz-me conforto,

traz-me tristeza e felicidade.

 

Traz-me saudade…

 

Saudade do que já fui

saudade de algo

que nunca voltarei a ser.

 

Ó sino velho!

4

Miguel S.

Ó sino,

Lembro-me de quando

Era pequeno

No tempo em que

Podia divertir-me

Em que não havia TPC

De quando era livre

E ia à catequese rezar

Ouvia cantar

Estava sempre a sorrir

Ó sino,

O teu toque ativa a minha nostalgia

Faz-me rir de saudade

De quando sentia alegria

De fazer o que queria

Imaginar era tudo

Não havia limites na criatividade

Ó sino,

Fiquei com mais idade

Mas tenho memórias

Que serão para sempre relembradas

5

David M.

Só me fazes sofrer

Cada vez que te ouço

Só me apetece morrer

 

A dormir belissimamente

A minha merecida sesta

Vais tu sorrateiramente

E transformas-te em festa

 

Dantes eras conveniente

Eras importante

Mas com as novas tecnologias 

Tornaste-te agoniante

 

Tens tantas coisas más

Mas até te acho bonito

Cada vez que saio à rua

Vejo-te, ó sino!

 

Não sei com acabar o poema

Só me fazes trabalhar

Vai arranjar o que fazer

E pára de me chatear.

6

Tomás C.

Angustiado

 

Ao ouvir o teu badalar,

penso no tempo

que está a passar

e no que poderia ter acabado.

 

Depois de tocares,

ouve-se o silêncio da noite 

que se vem instalar,

onde o vazio já lá está.

 

Como uma birra

de uma criança

ouço-te por todo o lado

lento como um caracol.

 

Com o teu soar,

a minha alma fica fria,

mas ao encerrar

fico feliz.

 

Sei que aqui vais

permanecer,

para tocar 

a outros como eu.

7

Rodrigo P.

Ó sino da minha igreja, quando tocas,

tento perceber se são as horas,

se é um dia especial, um falecimento…

 

Tantas vezes consegues despertar

duas lembranças especiais na minha vida,

os falecimentos do meu pai e avó.

Cada batida tua é uma lembrança deles.

 

Acordo todos os dias contigo, ó sino,

e todos os dias os recordo.

Lembro-me de Portel acordar triste

como disse a mãe de uma colega de turma.

 

Mas tenho as memórias boas comigo.

8

Leonor C.

O sino,

Bem discreto,

Belo e elegante

Parece tão delicado,

Mas é forte 

E chamativo

E ainda,

Sereno e calmo 

De certa forma

Dá também 

Uma sensação boa 

Quando o ouvimos tocar

No Natal, nos casamentos,

Ou o simples toque

Que conta as horas

O sino,

Tocando todos os dias,

De meia em meia hora

Desde as sete até 

Às dez e meia,

Todos os dias

Será que também 

Não se cansa?

E se um dia parasse?

9

Samuel R.

Ó sino, meu relógio, 

na hora certa é quando tocas.

 

Estejas mais a Sul 

ou mais a Norte 

a badalada é o teu forte.

 

Em qualquer canto ou esquina 

ouve-se a tua batida.

 

Pareces o meu despertador 

toca e toca sem parar,

esteja eu a correr ou a andar 

consigo ouvir-te a badalar. 

 

O teu aspeto é como 

um cone feito de ferro 

que está em cima 

de uma igreja.

 

Ó sino, és a melodia 

da nostalgia.

10

Martim G.

Ó sino da minha vila,

não gosto das tuas badaladas,

mas preciso de ti,

sem ti não sei as horas,

se há missa

ou quando devo rezar.

 

Ó sino,

às vezes não me deixas dormir,

mas obrigado pelos teus avisos 

embora as tuas pancadas

me deem dores de cabeça. 

 

Ó sino ferrugento,

és forte como a raiz de uma árvore 

e és chato como um bebé a chorar.

 

Ó sino maçador,

às vezes, até gosto de ti!

11

Simão P.

Quando o sino ouço

o Natal faz-me lembrar

a época do ano

de que mais gosto.

As prendas,

o amor,

as histórias

são a melhor coisa

que se pode ter.

Adoro a estrelinha

em cima do pinheiro,

as badaladas do sino,

o quentinho da lareira,

o frio da rua.

Lembra-me o inverno

de quando se está

na escola com frio

e o sino a tocar

e só se quer ir para casa 

comer a comidinha dos avós.

12

Miguel F.

Toques do sino

 

Sino da minha aldeia,

Tu que avisas as horas,

Estás lá nos momentos felizes,

Estás lá nos momentos tristes.

 

Posso não pensar muito em ti,

Mas sempre que oiço

As tuas longas badaladas,

Sinto uma tranquilidade na alma.

 

Às vezes surpreendes-me

Quando estou perto da igreja.

E outras vezes estamos reunidos

Para ouvir a tua melodia afinada.

 

Importante, melancólico e alegre

Todas estas características

num simples sino.

Isto é o que te faz especial.

13

Margarida C.

Pendurado naquela igreja

 

Há muito que fora brilhante

Mas o seu brilho foi ofuscado

Por sujidade de anos passados

 

Lá de cima

Diz-nos sempre as horas

Com pancadas que soam

Em toques afinados

 

A sua melodia ouve-se

Em casamentos ou funerais

Como uma sinfonia

A alegrar ou desalegrar

 

Na Pascoa, Natal, Ano Novo

Celebrações que com a sua música

Me recordam momentos divinos

 

Escuteira sou e com ele cresci

Nesta grande comunidade

As minhas promessas lhe fiz

14

Isabel R.

Sino, ó lindo sino

Sino, ó lindo sino
tão melodioso soas
e ninguém te dá ouvidos

Sino, ó lindo sino
esbelto te aparentas
e ninguém te dá atenção

Sino, ó lindo sino
antes um relógio eras
e agora atrasado soas

Sino, ó lindo sino
boas memórias me lembras
dantes pequena, agora crescida

Sino, ó lindo sino
o meu coração vibra

ao ouvir o teu som

Sino, ó lindo sino
observo-te e admiro-te
com um sorriso, um suspiro

15

Madalena C.

Ao longe ouço o sino 

 

Ouço-te ao longe 

Desde pequenina, 

Mas já não tens

A mesma vibração.

 

Quando te ouço,

Cada vez tenho 

Mais saudades.

 

No Natal menos te quero,

A mesa denúncia 

Ausências importantes.

 

Podia ter mais memórias

Do que as que criámos juntas,

Mas lembro-me delas

Com todo o carinho.

 

No dia que me deixaste, 

O sino não parava

De badalar triste.

 

Das memórias mais bonitas

Que tivemos em comum,

Recordo a primeira viagem

Juntas!

16

Lourenço M.

Da igreja ouve-se o sino

Por vezes desperta

Por vezes acalma

Por vezes informa sobre a hora

 

Transmite um sentimento de vazio

Mas também uma sensação de alegria

Principalmente quando temos companhia

 

O som do sino une as pessoas 

Nas grandes festividades

Como no Natal, Páscoa ou Carnaval

Ou também na hora da missa

 

O sino enorme vê-se lá em cima

No alto da igreja sempre a tocar

E quando passo por ele 

Ponho-me logo a olhar

17

Filipa R.

O sino que toca na aldeia

 

Sino da minha terra,

Lembras-me muita coisa

Que eu não consigo explicar.

 

Lembras-me o Natal

Na casa da avó

E toda a família reunida.

 

Lembras-me as tardes

De verão, animadas e 

Cheias de alegria.

 

Quando chego da escola, 

Estás a tocar, eu já sei

Que são horas de lanchar.

 

Estás cá na aldeia

Há muito tempo e

Continuas a funcionar.

 

Tens um significado 

Especial para aquele 

Que te ouve a soar.

18

Ricardo G.

Ó sino da igreja,

Que afinado tu és

Sempre que te oiço

Fazes-me lembrar o Natal

 

Também me lembras

As festas da vila

E se me perder

És tu que me encontras

 

Quando és ouvido

Tens todos os olhos em ti

Quem a igreja visita

Fica com saudades tuas

 

As tuas badaladas marcam

De forma a não serem esquecidas

As pessoas que te veem não te esquecem

Pois tão lindo e afinado como tu não há igual

19

Mariana C.

Ouço o sino lá longe

Tem badaladas fortes

No Natal o som dele

Tem outro significado

É mais alegre

É mais vibrante

É nessa altura

Que me lembro de Belém

E faz-me sentir

A saudade mais perto

Saudade

De um jantar com a família junta

Das prendas

Das brincadeiras

Das gargalhadas

Lá fora não há estrelas

Vejo a neve a cair

Ouço o sino a tocar

Cá dentro estou quentinha

Enrolada na manta

Com a minha gatinha

20

Tomás C.

Lembranças em badaladas

 

É um toque que ecoa

Por toda a minha vida

Numa tarde de domingo

Sentindo a calmaria

 

Quando o ouvia tocar

Sabia que era tempo

De a missa começar

E ouvir o padre falar

 

Lembro-me de quando era

A época de Natal

E eu ouvia as músicas

Com o sino a soar

Eu com os meus amigos a cantar

 

Lembro-me bem do sino

No casamento a tocar

E da noiva na igreja a entrar

21

Inês P.

Quando oiço o sino

Lembro-me de quando era criança 

Ele tocava e eu dançava 

 

Quando perto do sino passava

Punha-me a analisar 

Como podia ele tocar

Se ninguém junto dele estava 

 

Por vezes era de irritar 

E em vez de dançar 

Só me apetecia gritar

 

Se houvesse um casamento

À rua eu saía

Para ouvir o sino a tocar

 

Quando tocava muitas vezes

Já sabia que coisa boa não era 

E saía para descobrir o que acontecera

22

Bernardo R.

Meu sino,

O teu ferro reluz

Sob a luz do sol

À noite, ao luar

És coberto pela penumbra

O teu soar

É invocado inúmeras vezes

Há dias em que é vibrante

Há dias em que é religioso

Há dias em que cobre

A vila de tristeza e pesar

És um símbolo de união e de fé

E símbolo da vida a esvair-se das mãos

As tuas badaladas alegram

Mas torturam a alma com dor e melancolia

23

Inês C.

Raio do sino,

Quando toca, tudo estremece.

Nunca ouvi barulho tão cretino,

Aquelas badaladas só me causam stress.

 

Todas as minhas noites são interrompidas

Por badaladas que para alguns são sentidas.

Só me preocupo quando tocam a finados

Aí sim,  é caso para ficarmos preocupados.

 

Em dias de casamento tocam mais felizes

Anunciam nova união.

Os que moram perto da igreja,

Esses sim ficam mais infelizes

Com tamanha confusão.

Não simpatizo nada contigo, ó raio do sino!

24

Maria S.

Ó sino, porque não páras de tocar? 

Não sei ao certo o que me fazes sentir 

Mas lembras-me o passado 

O passado em que perguntava à minha avó 

O porquê de tocares a toda a hora 

 

Eras um enigma na minha cabeça 

Mas agora percebo a tua existência 

 

Tu tocas por vários motivos 

Para dares as horas,

Para anunciares a alegria,

Para anunciares a tristeza, 

Para anunciares uma perda,

Mas digo-te uma coisa 

És irritante, ó sino

25

Martim P.

Quando éramos pequenos 

Só queríamos crescer

E agora que o sino 

Toca ao entardecer

Percebemos que está a acontecer 

Sem nos apercebermos 

À medida que o tempo passa

Enquanto dou toques afinados

Na minha guitarra

Ouço da janela

O toque a finados

Do sino da minha terra 

O incerto sino

De muitos significados 

Traz lembranças mistas

De festividades e atividades 

Até avisos importantes 

E perdas lastimáveis

Em tempos antigos 

O sino era imprescindível 

E ainda o é 

26

Matilde C.

Sino, meu querido sino

O teu toque

Desperta a freguesia 

A subida ao altar

Faz-me sonhar

E sentir o amor a nascer

Já o fim de certas vidas

Provoca-me desespero

E as tuas badaladas

Fazem estremecer fortemente

A minha alma 

Por mais longe que estejas

Oiço de perto

O teu esplendor angustiante 

Do teu som sinto receio

Receio o futuro

A cada pancada tua

Menos um dia de amores

De dores

E de vida

Vida extremamente sofrida

27

Tomás L.

Ó sino,

Tu soas

Como as andorinhas

Na primavera

E cantas

Nas velhas aldeias

E nas grandes cidades

 

Ó sino,

Todos sentem

A tua presença

Tu voas a tocar

 

Ó sino,

Todos dormem

Com o teu embalar

E acordam contigo a berrar

 

Ó sino,

Tu fazes chorar

Com o teu cantar

 

Ó sino,

A cada pancada tua

Começam as abelhas  a trabalhar

E as ovelhas a berrar

 

Ó sino,

Há dias em que ninguém

Te consegue aturar

No dia em que o caldo se entornou…

Em 77 palavras apenas, os alunos ginasticaram a sintaxe, escrevendo um texto começado por uma expressão idiomática, onde cada frase só podia ter 11 palavras.

01

Bernardo R.

No dia em que o caldo se entornou, a vida piorou. O meu instrumento, o meu violino que tanto me custou, partiu-se. Berrei, chorei, gritei, mas nada adiantou, tentei colá-lo, remendá-lo, nada ajudou. Só piorou, então protestei, lamentei, estremeci, caí em profunda melancolia, berrei. A minha felicidade escorregou, esvaiu-se das minhas mãos, ficara sem nada. Nessa altura, a rua foi a minha casa, o meu abrigo. As migalhas foram o meu alimento, as vozes, o meu entretenimento.

02

Inês C.

No dia em que o caldo se entornou, o carrossel abanou. Eu estava toda pomposa, andando no carrossel da Feira de Setembro. Já estávamos a girar pelos ares e a minha amiga calada. Estranhei a rapariga mais escandalosa que eu conheço nem sequer gritar. Reparei então que ela não estava a sentir-se bem, mas calei-me. Com a agitação do carrossel, ela acabou por chamar o Gregório. Fiquei furiosa, estragou-me a noite e a roupa com aquela imundice.

03

Inês P.

No dia em que o caldo se entornou, uma amizade acabou. Não esperava que uma saída ao parque acabasse com aquela relação. Foi um mal-entendido que fez com que eu ficasse muito triste. Fiz tudo para aquela amizade não acabar, mas não dava mais. O que eu dizia era sempre muito deturpado da parte dele. Tudo mudou desde aí e vi que não precisava daquele relacionamento. Depois desse momento, senti-me com um peso a menos na vida.

04

Leonor N.

No dia em que o caldo se entornou, pulei da janela. Naquela noite, o meu irmão e eu tivemos uma grande discussão. Pouco tempo depois, a minha mãe entrou no quarto bastante enervada. Ela gritou muito connosco e, logo a seguir, mostrou-nos o cinto. Perguntou-nos qual dos dois queria levar primeiro e apenas ficámos calados. Ela aproximou-se e eu corri imediatamente para a janela e fugi. Corri até à casa dos meus avós e por lá fiquei.

05

Maria S.

No dia em que o caldo se entornou, tudo nele mudou. Eu pensava que aquele dia seria fantástico até algo ter acontecido. Uma crise de ciúmes ia dando no fim de um relacionamento. Ele exaltou-se, mandou-me mensagens que, por algum motivo, eu não recebi. Tentei explicar-lhe o que tinha acontecido, mas não foi muito fácil. Ele julgou que eu o tivesse traído e quis terminar comigo. Eu não deixei, falámos melhor e, no final, ficou tudo bem.

06

Martim P.

No dia em que o caldo se entornou, só queria desaparecer. Embora só tivesse 12 anos, saí às escondidas para me divertir. Vesti a minha melhor roupa e saí em direção à festa. Já estavam todos a dormir, por isso, fechei a porta devagar. Encontrei-me com a Maria Madalena e fomos para a festa juntas. O lugar estava bastante aninado e movimentado, dancei e diverti-me muito. Quando regressei, ao abrir a porta, tinha a minha mãe esperando-me.

07

Tomás F.

No dia em que o caldo se entornou, tudo se queimou. Das casas à floresta, ardeu tudo, sobrando apenas cinza e destroços. Isto começou a partir de uma brincadeira com fósforos e folhas. A curiosidade de um jovem muito explorador foi posta à prova. Após a brincadeira, não se apercebeu de que queimara o jardim.  O fogo alastrou às casas vizinhas e chegou rapidamente à floresta. Graças aos bombeiros, o incêndio foi extinto, os vizinhos perderam tudo.

08

Carolina P.

No dia em que o caldo se entornou, a festa acabou. Tudo parecia correr bem no casamento de Briolanja até algo mudar. João, um amigo da noiva, de repente falava em altos berros. Começou a alegar que vira o noivo aos beijos com outra. Briolanja ficou muito destroçada e foi tirar a conversa a limpo. Apontou o dedo indicador, o noivo confessou, traíra-a com a Joana. Esta era a sua irmã caçula, Briolanja acabou com o casamento.

09

Filipa R.

No dia em que o caldo se entornou, parti o pé. Estava a ajudar a minha mãe com as pinturas da casa. Pintei o meu quarto e depois ajudei a pintar a sala. A minha mãe pintava uma parede e eu pintava a outra. Estava em cima de um escadote, mas as minhas pernas tremiam. Eu estava com medo de cair, pois não tenho muito equilíbrio. Até que caí mesmo do escadote e ele também foi atrás.

10

Joaquim C.

No dia em que o caldo se entornou, um acidente aconteceu. Uma tourada que tinha tudo para dar certo tornou-se um pesadelo. Um touro com um físico de outro mundo saiu à rua. Durante metade do tempo do espetáculo, tudo estava a correr bem. Havia recortes realizados por muitos homens experientes e aficionados das touradas. Até que dois homens falharam um recorte, foram colhidos pelo touro. A população entrou em pânico pela situação, a tourada foi encerrada.

11

Madalena C.

No dia em que o caldo se entornou, tive um acidente. Um senhor guarda é que me veio socorrer por ter dores. Ligou imediatamente para o 112 e fui direta para o hospital. Fraturei três vértebras, o fémur da perna esquerda e quatro dedos. Fiquei internada meses e os médicos queriam que ficasse mais tempo. Eu detesto hospitais, por isso, preparei secretamente uma tentativa de fuga. Quando ninguém circulava pelo quarto, saltei da janela, mas estraguei tudo.

12

Miguel F.

No dia em que o caldo se entornou, fiquei de castigo. Estava a brincar com a minha irmã quando um acidente aconteceu. Tentei acertar-lhe com o comando, mas errei e parti a televisão. O porquinho-da-índia gritou e escondeu-se, nós ficámos apenas de boca aberta. Quando os nossos pais chegaram a casa, ficaram vermelhos de raiva. Bateram-nos aos dois e trancaram-me no meu quarto durante duas semanas. No final, ambos tivemos que pagar uma televisão novinha em folha.

13

Tomás C.

No dia em que o caldo se entornou, fui preso injustamente. Estava a passear no mercado quando reparei num homem bastante suspeito. Ele roubava um senhor idoso, que estava a vender peras frescas. Gritei para o ladrão parar, então o criminoso começou a fugir. Fui atrás dele pelas ruas, quando encontrei dois guardas, mandaram-me parar. Perguntaram-me o que eu andava a fazer, disse-lhes o que aconteceu. Mas eles não acreditaram e prenderam-me, confundindo-me com um outro suspeito.

14

Ana V.

No dia em que o caldo se entornou, fiquei muito triste. O meu avô foi para o hospital em estado muito grave. Parecia que a casa estava completamente vazia, sem as nossas brincadeiras. Mas eu sabia que ele era forte e iria ultrapassar tudo. Foram dias muito difíceis para a minha família, sempre muito preocupada. Entretanto o meu avô melhorou, veio para casa sorridente e abraçou-me. A minha felicidade voltou de novo e foi-se embora a tristeza.

15

Leonor C.

No dia em que o caldo se entornou, o passarinho fugiu. E não foi apenas porque a porta da gaiola estava aberta. Foi porque a janela da cozinha ficou aberta para entrar claridade. A família andava muito distraída e não reparou no pequeno incidente. Depois de algum tempo muito ocupados, todos repararam na gaiola vazia. Entraram em pânico, mas parece que Deus não os deixaria sofrendo. Pois acontece que o passarinho rapidamente voltou para casa com medo.

16

Madalena N.

No dia em que o caldo se entornou, alguém foi enganado. Ulisses, farto da esposa reclamando da torneira a pingar, resolveu surpreendê-la. No aniversário de casamento, como presente, arranjou-lhe a maldita torneira velha. Ao ver a surpresa, a esposa agradeceu com a respiração ofegante. Uns minutos depois, ouviu-se a campainha de casa a tocar insistentemente. Ao abrir a porta, Ulisses viu o canalizador com um buquê. Afinal de contas, a sua esposa queria outro homem como prenda.

17

Matilde F.

No dia em que o caldo se entornou, aquela casa desabou. A avó Alberta o jantar desperdiçou porque a porta aberta deixou. O Bolinhas, o gato da vizinha, pela cozinha entrou, cheirou-lhe bem. Aproximou-se da panela e, como podem imaginar, isto bem não acabou. Alberta foi ver do caldo e com uma tragédia se deparou. Uma magnífica sopa o gato derramou, por todo o chão ficou. A velha, com fome e sem caldo, o gato cozinhou, gostou.

18

Naíma R.

No dia em que o caldo se entornou, soube-se a verdade. Quando Carla revelou a traição, até a tijela acabou no chão. Mário ficou chocado sobretudo assim que soube a identidade do amante… No segundo seguinte, Mário agrediu o amante, seu irmão, com força. A polícia foi chamada e o Mário foi levado e processado. No momento em que ele foi libertado, procurou Carla com precaução. Mas já estava casada com um primo de Mário, que desastre.

19

Santiago S.

No dia em que o caldo se entornou, a Sissi chorou. A irmã torturou-a com as suas imensas bonecas Barbie sem cabeça. Foi uma tortura tal que o estojo de maquilhagem ficou destruído. Até o computador parecia aterrorizado, com parte do teclado luminoso partido. Enquanto as duas se matavam, a mãe subia furiosamente as escadas. Quando viu a guerra montada no quarto, mandou-as arrumar tudo severamente. E a Sissi enterrou-se nos seus pensamentos mais profundos e negativos.

20

Tomás C.

No dia em que o caldo se entornou, a decoração mudou. Estávamos a chegar a uma data mesmo muito especial, o Natal. A minha família e eu decidimos decorar a árvore de Natal. Um bonequinho ali, luzes a enfeitar, a estrela em cima brilhando. Fizemos um grande e árduo trabalho em equipa, valeu a pena. Durante a noite, os meus amigos felinos resolveram brincar, destruindo tudo. Logo de manhã, encontrámos a árvore estendida no chão e despida.

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