Camões, Engenho e Arte
Comemorações do V Centenário do Nascimento de Camões
A Lírica Camoniana
A lírica camoniana compreende um conjunto de poesias muito diversificadas tanto a nível temático como a nível formal. Distribuem-se por composições de medida velha, integradas na tradição da lírica peninsular, e composições de medida nova, que adotam as formas que chegaram a Portugal vindas de Itália. Os temas tratados são muito variados e ricos. Entre eles, podemos destacar a mulher, o amor, o desconcerto do mundo, a natureza e a reflexão sobre a vida pessoal.
Tomás C.
Ao desconcerto do mundo
Alguns vi sempre passar
Na vida fácil do copianço,
Vi-os sempre a arriscar,
A avançar sem falhanço,
Felizes sem marcas deixar.
Larguei por isso o marranço
E logo me fui estrear,
Fui avisado, mas fui tanso
Neste meu mundo de azar,
Onde ao contrário avanço.
Madalena N.
Ao desconcerto do mundo
As vítimas vi escutar
Na escola ofensas socadas
E, para mais me espantar,
Agressores vi afirmar
Inocência em ciladas.
Tentando impedir assim
O mal de ser espalhado,
Fiz queixa, mas fui troçado.
Parece que, para mim,
Anda o mundo baralhado.
Luís de Camões
A um fidalgo que lhe tardava
Com uma camisa galante que lhe prometera
Quem no Mundo quiser ser
Havido por singular,
Para mais se engrandecer,
Há de trazer sempre o dar
Nas ancas do prometer.
E já que Vossa Mercê
Largueza tem por divisa,
Como todo o mundo vê,
Há mister que tanto dê,
Que venha dar a camisa.
Matilde C.
A um tratante que não cumpriu
Com a jura de amor eterno que fizera
Quem no mundo quiser amar
E em troca ser respeitado
Não deve à toa prometer.
Ninguém merece no altar
Ficar sozinho a chorar
Por quem não quis aparecer.
Um amor com duas caras
É somente pura ilusão.
As atitudes devem ser claras,
Com bondade no coração.
Carolina P.
A uma vizinha que me tardava
Com um saco de limões que me prometera
Quem no mundo quiser ser
Mentiroso e desumilde
Observe a minha vizinha
Que não cumpre a palavrinha.
Prometeu-me alguns limões
Para um refresco fazer,
Mas o raio da mulher
Esqueceu-se da promessa
E nunca mos veio trazer.
Quem promete fica a dever!
Luís de Camões
Vida de minha alma!
Dois tormentos vejo
Grandes por extremo:
Se vos vejo, temo;
E se não, desejo.
Quando me despejo
E venho a escolher,
Se temo o desejo,
Desejo o temer!
Inês P., Madalena H.,
Maria S., Rafael C. e Tomás L.
Vida de estudante!
Dois pesadelos enfrento
Bem grandes por sinal:
Se estudo, aborreço-me
E se não, sinto-me mal.
Ó rico TPC do inferno,
Continuas por cumprir,
Fechado quero o caderno
Ou será que o devo abrir?
Luís de Camões
Se Helena apartar
Do campo seus olhos,
Nascerão abrolhos.
A verdura amena,
Gados que pasceis,
Sabei que a deveis
Aos olhos de Helena.
Os ventos serena,
Faz flores de abrolhos
O ar de seus olhos.
Faz serras floridas,
Faz claras as fontes:
Se isto faz nos montes,
Que fará nas vidas?
Trá-las suspendidas,
Como ervas em molhos,
Na luz de seus olhos.
Os corações prende
Com graça inumana;
De cada pestana
Uma alma lhe pende.
Amor se lhe rende
E, posto em joelhos,
Pasma nos seus olhos.
Madalena C.
Se Helena se afastar
Um pouco dos meus olhos,
O coração fica a saltar.
Do campo se aproxima
E no meio do pasto
Anda Helena sorrateira
Com os seus olhos azuis,
Caçando sem canseira.
As horas vão passando
E ao sol vai brincando.
É uma gata encantadora,
Com muitos pretendentes,
No amor é arrasadora,
Mas eles ficam contentes.
Lutam todos por Helena
Sempre com esperança
De protagonismo em cena.
Óscar ou Sebastião?
Quem roubará o coração
A Helena de olhos azuis?
O Óscar é barrigudo
Além de bochechudo.
Charmoso é o Sebastião,
Mas tem corpo de anão.
Luís de Camões
Está o lascivo e doce passarinho
Com o biquinho as penas ordenando,
O verso sem medida, alegre e brando,
Despedindo no rústico raminho.
O cruel caçador, que do caminho
Se vem calado e manso desviando,
Com pronta vista a seta endireitando,
Lhe dá no Estígio Lago eterno ninho.
Desta arte o coração, que livre andava,
(Posto que já de longe destinado)
Onde menos temia, foi ferido.
Porque o Frecheiro cego me esperava,
Para que me tomasse descuidado,
Em vossos claros olhos escondido.
Margarida C.
Está o lascivo e doce passarinho
Pequeno e de pena muito azulinha
Cantando sobre a estreita janelinha
Como se tivesse encontrado o ninho
Aguarda uma carta para levar
A uma certa donzela muito amada
Escrita com letrinha arredondada
Que a fará naturalmente sonhar
Maravilhada com aquele amor
Numa folha de papel demonstrado
Espera o passarinho encantador
Como o Cupido e sem qualquer canseira
Para aquecer um coração isolado
O passarinho ultrapassa a fronteira
Luís de Camões
Enforquei minha Esperança;
Mas Amor foi tão madraço,
Que lhe cortou o baraço.
Foi a Esperança julgada
Por setença da Ventura
Que, pois me teve à pendura,
Que fosse dependurada:
Vem Cupido com a espada,
Corta-lhe cerce o baraço.
Cupido, foste madraço.
Leonor S.
Enforquei minha esperança
De vir a amar alguém
Que fosse de confiança.
Vi o amor derramado
Longe do meu amado
E o Cupido com intenção
Acertou-me no coração.
Como uma flor a crescer
E ouvindo os passarinhos,
A esperança vi renascer.
André V.
Enforquei minha esperança
De desistir de um sonho
Isso seria medonho
Lutarei sem desistir
Um sonho quero realizar
Uma vida melhor alcançar
E todo planeta conquistar
Num dos três grandes a jogar
E a Bola de Ouro ganhar
Lutarei sem desistir
Inês C., Maria S. e Martim F.
Enforquei minha esperança
Podia ter sido hoje
Iludi-me com confiança
A riqueza foge de mim
O que já é habitual
Bem olho para o boletim
Mas nenhum número é igual
Revi tim-tim por tim-tim
E voltei a fazer asneira
Terei sorte sexta-feira?
Madalena H. e Tomás F.
Enforquei minha esperança
De um dia vir a ser rico
Bem mais do que a vizinhança.
Foi dinheiro desperdiçado
Em jogo descontrolado
E de aposta em aposta
Me enforquei sem baraço.
Vivi na doce ilusão
De ganhar sem trabalhar,
Desgraçado sou e madraço.
Bruno R. e Guilherme A.
Enforquei minha esperança
Por perder toda a poupança
E não poder ir a França.
Aquela noite foi de esquecer
Após tanto dinheiro perder
Naquele casino amaldiçoado
Pela ganância fui tramado.
Quando apostei o mealheiro
Perdi logo o guito inteiro
Perdi França, fui interesseiro!
Inês P. e Tomás L.
Enforquei minha esperança
De uma viagem em criança
Na memória ficar
Em viajar o pai pensou
E a mãe logo concordou
Eu fiquei sem perceber
Que iam eles escolher
Alemanha ou Angola
Moçambique pode ser
Viajarei sem esquecer?
Luís de Camões
Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.
Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes;
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.
Gado, que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendeis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.
Alice C., Andrea I., Filipa R.,
Gonçalo N., Mariana C. e Vicente R.
Preta é a noite
Da cor do apagão
Assim são os olhos
Do meu irmão.
Tenho uma família enorme
Que cabe toda no coração
Todos adoro sem exceção.
Às vezes zango-me imenso
E apetece-me logo fugir
Mas paro, penso e repenso
Em quem me dá o pão
Amor, carinho e perdão.
As brigas de irmãos existem
E, por vezes, são violentas,
Quando os pais assistem,
Deixa de haver tormentas.
Ao jantar a guerra regressa
Com um olhar a provocar,
Cruzam-se os olhos depressa
Para novo duelo começar.
Santiago S.
Verdes são os mares,
Como o verdilhão,
Assim são os olhos
Do meu chuchuzão.
Ondas que rebentam,
Estrelas-do-mar
Que ali irradiam,
Uma voz a bailar
Tão bela a soar,
Ondas do cabelo
Eu contemplo e são
Do meu chuchuzão.
Recifes de corais,
Grande multidão,
Oceanos tais,
Pintados à mão.
Isso que limpais
Não são algas, não:
É água dos olhos
Do meu chuchuzão.
Luís de Camões
Perdigão perdeu a pena
Não há mal que lhe não venha.
Perdigão que o pensamento
Subiu a um alto lugar,
Perde a pena do voar,
Ganha a pena do tormento.
Não tem no ar nem no vento
Asas com que se sustenha:
Não há mal que lhe não venha.
Quis voar a uma alta torre,
Mas achou-se desasado;
E, vendo-se depenado,
De puro penado morre.
Se a queixumes se socorre,
Lança no fogo mais lenha:
Não há mal que lhe não venha.
Joaquim C.
Perdigão perdeu a pena
Não há cão que não o fareje.
Perdigão que foi encontrado
Das estevas saiu rápido
Para não ser agarrado
Por aquele inimigo ávido.
Atrás dele ia ladrando,
Correndo muito e saltando,
Mas não foi nunca apanhado.
Tanto voou o perdigão,
Que nem mesmo o caçador,
O melhor atirador,
Lhe conseguiu pôr a mão.
Foram três tiros mal gastos
Que o safaram do terror
De terminar no fogão.
Luís de Camões
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E enfim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
Miguel F.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Mudam-se escolhas e muda a pessoa,
Comigo a mudança foi sendo boa,
Adquirindo novas capacidades.
Sofre-se sempre com a novidade,
Há diferença naquilo que faço:
No passado, permanece o fracasso,
No presente, ganha-se humildade.
A vida enche-se de mil aflições
E o que um dia me pareceu tão fácil
Coloca-me agora interrogações.
Mas como sou bastante persistente,
Apesar de também um pouco frágil,
Supero cada obstáculo crescente.
Luís de Camões
Descalça vai para a fonte
Leonor pela verdura;
Vai formosa e não segura.
Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata.
Sainho de chamalote;
Traz a vasquinha de cote.
Mais branca que a neve pura;
Vai formosa e não segura.
Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro o trançado,
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta;
Chove nela graça tanta
Que dá graça a formosura;
Vai formosa e não segura.
Martim C., Matilde F. e Samuel R.
Andando vai para a escola
Leonor pela calçada
Vai amuada e bem arranjada
Leva uma curta minissaia
E um top preto brilhante
A delinear a cinturinha
Vai toda radiante
Despertando a atenção
De qualquer rapariguinha
Com a sua bota elegante
Anda no décimo ano
Mas gosta pouco de estudar
Vai à escola só bisbilhotar
E também namoriscar
Nas aulas em vez de trabalhar
Fica na lua a pensar
Com quem se vai encontrar
Luís de Camões
Aquela triste e leda madrugada,
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Enquanto houver no mundo saudade
Quero que seja sempre celebrada.
Ela só quando, amena e marchetada,
Saía, dando ao mundo claridade,
Viu apartar-se de uma outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.
Ela só viu as lágrimas em fio,
Que de uns e de outros olhos derivadas,
Se acrescentaram em grande e largo rio;
Ela viu as palavras magoadas,
Que puderam tornar o fogo frio
E dar descanso às almas condenadas.
Leonor C.
Aquela triste e leda madrugada,
Por todos lamentada, comovente,
Já cheia de saudade permanente,
Desejo que assim seja relembrada.
Houve uma paz sentida no verão,
A convivência, os sorrisos duraram,
Momentos inesquecíveis marcaram
Eternamente este meu coração.
Pela nossa partida já sofremos,
Agora ao lar nós vamos regressar,
Vamos voltar para onde pertencemos.
Longe da bela casa de verão,
Que será para sempre recordada,
Pelos bons momentos de diversão.
Luís de Camões
Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor,
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Lourenço M.
Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ver de forma muito diferente:
É andar acordado, mas dormente,
É querer o que não se pode ter.
É ter prazer em dar sem receber,
É ser rico mesmo sem ter dinheiro,
É gostar de cheirar não tendo cheiro,
É um sofrimento que se quer ter.
É tristeza com sabor a ilusão,
É paixão que não se pode conter,
É sentimento que abre o coração.
Mas como fazer para não sofrer?
Morrerei sem entender o que sinto?
O amor é assim, doa a quem doer!
Após a leitura e análise do poema “Ó sino da minha aldeia”, de Fernando Pessoa, os alunos dedicaram 77 palavras ao sino. Eis o resultado.
O Sino
1
Madalena N.
Erguido no alto da torre,
solitário e firme,
fala o sino.
Pesa o silêncio, tornando-o som.
Mas o som é mais do que apenas barulho;
é uma lembrança de que estamos aqui,
no mesmo instante,
a viver o mesmo minuto.
O sino é a voz
que fala para todos
e por todos nós.
Mas ninguém pára para ouvi-lo.
Quando o seu toque final
deixa de ressoar,
o sino, tristemente,
volta a aguardar
a hora certa para falar.
2
Naíma R.
Ó sino, sino da minha vila,
já voltaste a tocar afinado,
apenas torço para que
não seja a finados.
O teu toque é escandaloso,
irritante muitas vezes,
mas também tem
sentimentos escondidos.
Podes anunciar as horas
ou, por vezes,
anunciar lágrimas,
ou uma bela nova esposa.
Ó sino, tu que me trazes ódio,
mas também a esperança
do amor.
Ó sino,
o teu toque
é alegre ou triste?
As lágrimas
que daqui consigo ouvir
são de sofrimento?
3
Matilde F.
Ó sino velho,
tocas quando chego,
tocas quando abalo.
Ó sino velho,
em ti nunca reparei
e um poema te escrevo.
Ó sino velho,
como é que me despertas
tal sentimento?!
Ó sino velho,
a cada badalada tua
distancias-me de um sonho
que já foi realidade.
Ó sino velho,
o teu som arrastado
traz-me conforto,
traz-me tristeza e felicidade.
Traz-me saudade…
Saudade do que já fui
saudade de algo
que nunca voltarei a ser.
Ó sino velho!
4
Miguel S.
Ó sino,
Lembro-me de quando
Era pequeno
No tempo em que
Podia divertir-me
Em que não havia TPC
De quando era livre
E ia à catequese rezar
Ouvia cantar
Estava sempre a sorrir
Ó sino,
O teu toque ativa a minha nostalgia
Faz-me rir de saudade
De quando sentia alegria
De fazer o que queria
Imaginar era tudo
Não havia limites na criatividade
Ó sino,
Fiquei com mais idade
Mas tenho memórias
Que serão para sempre relembradas
5
David M.
Só me fazes sofrer
Cada vez que te ouço
Só me apetece morrer
A dormir belissimamente
A minha merecida sesta
Vais tu sorrateiramente
E transformas-te em festa
Dantes eras conveniente
Eras importante
Mas com as novas tecnologias
Tornaste-te agoniante
Tens tantas coisas más
Mas até te acho bonito
Cada vez que saio à rua
Vejo-te, ó sino!
Não sei com acabar o poema
Só me fazes trabalhar
Vai arranjar o que fazer
E pára de me chatear.
6
Tomás C.
Angustiado
Ao ouvir o teu badalar,
penso no tempo
que está a passar
e no que poderia ter acabado.
Depois de tocares,
ouve-se o silêncio da noite
que se vem instalar,
onde o vazio já lá está.
Como uma birra
de uma criança
ouço-te por todo o lado
lento como um caracol.
Com o teu soar,
a minha alma fica fria,
mas ao encerrar
fico feliz.
Sei que aqui vais
permanecer,
para tocar
a outros como eu.
7
Rodrigo P.
Ó sino da minha igreja, quando tocas,
tento perceber se são as horas,
se é um dia especial, um falecimento…
Tantas vezes consegues despertar
duas lembranças especiais na minha vida,
os falecimentos do meu pai e avó.
Cada batida tua é uma lembrança deles.
Acordo todos os dias contigo, ó sino,
e todos os dias os recordo.
Lembro-me de Portel acordar triste
como disse a mãe de uma colega de turma.
Mas tenho as memórias boas comigo.
8
Leonor C.
O sino,
Bem discreto,
Belo e elegante
Parece tão delicado,
Mas é forte
E chamativo
E ainda,
Sereno e calmo
De certa forma
Dá também
Uma sensação boa
Quando o ouvimos tocar
No Natal, nos casamentos,
Ou o simples toque
Que conta as horas
O sino,
Tocando todos os dias,
De meia em meia hora
Desde as sete até
Às dez e meia,
Todos os dias
Será que também
Não se cansa?
E se um dia parasse?
9
Samuel R.
Ó sino, meu relógio,
na hora certa é quando tocas.
Estejas mais a Sul
ou mais a Norte
a badalada é o teu forte.
Em qualquer canto ou esquina
ouve-se a tua batida.
Pareces o meu despertador
toca e toca sem parar,
esteja eu a correr ou a andar
consigo ouvir-te a badalar.
O teu aspeto é como
um cone feito de ferro
que está em cima
de uma igreja.
Ó sino, és a melodia
da nostalgia.
10
Martim G.
Ó sino da minha vila,
não gosto das tuas badaladas,
mas preciso de ti,
sem ti não sei as horas,
se há missa
ou quando devo rezar.
Ó sino,
às vezes não me deixas dormir,
mas obrigado pelos teus avisos
embora as tuas pancadas
me deem dores de cabeça.
Ó sino ferrugento,
és forte como a raiz de uma árvore
e és chato como um bebé a chorar.
Ó sino maçador,
às vezes, até gosto de ti!
11
Simão P.
Quando o sino ouço
o Natal faz-me lembrar
a época do ano
de que mais gosto.
As prendas,
o amor,
as histórias
são a melhor coisa
que se pode ter.
Adoro a estrelinha
em cima do pinheiro,
as badaladas do sino,
o quentinho da lareira,
o frio da rua.
Lembra-me o inverno
de quando se está
na escola com frio
e o sino a tocar
e só se quer ir para casa
comer a comidinha dos avós.
12
Miguel F.
Toques do sino
Sino da minha aldeia,
Tu que avisas as horas,
Estás lá nos momentos felizes,
Estás lá nos momentos tristes.
Posso não pensar muito em ti,
Mas sempre que oiço
As tuas longas badaladas,
Sinto uma tranquilidade na alma.
Às vezes surpreendes-me
Quando estou perto da igreja.
E outras vezes estamos reunidos
Para ouvir a tua melodia afinada.
Importante, melancólico e alegre
Todas estas características
num simples sino.
Isto é o que te faz especial.
13
Margarida C.
Pendurado naquela igreja
Há muito que fora brilhante
Mas o seu brilho foi ofuscado
Por sujidade de anos passados
Lá de cima
Diz-nos sempre as horas
Com pancadas que soam
Em toques afinados
A sua melodia ouve-se
Em casamentos ou funerais
Como uma sinfonia
A alegrar ou desalegrar
Na Pascoa, Natal, Ano Novo
Celebrações que com a sua música
Me recordam momentos divinos
Escuteira sou e com ele cresci
Nesta grande comunidade
As minhas promessas lhe fiz
14
Isabel R.
Sino, ó lindo sino
Sino, ó lindo sino
tão melodioso soas
e ninguém te dá ouvidos
Sino, ó lindo sino
esbelto te aparentas
e ninguém te dá atenção
Sino, ó lindo sino
antes um relógio eras
e agora atrasado soas
Sino, ó lindo sino
boas memórias me lembras
dantes pequena, agora crescida
Sino, ó lindo sino
o meu coração vibra
ao ouvir o teu som
Sino, ó lindo sino
observo-te e admiro-te
com um sorriso, um suspiro
15
Madalena C.
Ao longe ouço o sino
Ouço-te ao longe
Desde pequenina,
Mas já não tens
A mesma vibração.
Quando te ouço,
Cada vez tenho
Mais saudades.
No Natal menos te quero,
A mesa denúncia
Ausências importantes.
Podia ter mais memórias
Do que as que criámos juntas,
Mas lembro-me delas
Com todo o carinho.
No dia que me deixaste,
O sino não parava
De badalar triste.
Das memórias mais bonitas
Que tivemos em comum,
Recordo a primeira viagem
Juntas!
16
Lourenço M.
Da igreja ouve-se o sino
Por vezes desperta
Por vezes acalma
Por vezes informa sobre a hora
Transmite um sentimento de vazio
Mas também uma sensação de alegria
Principalmente quando temos companhia
O som do sino une as pessoas
Nas grandes festividades
Como no Natal, Páscoa ou Carnaval
Ou também na hora da missa
O sino enorme vê-se lá em cima
No alto da igreja sempre a tocar
E quando passo por ele
Ponho-me logo a olhar
17
Filipa R.
O sino que toca na aldeia
Sino da minha terra,
Lembras-me muita coisa
Que eu não consigo explicar.
Lembras-me o Natal
Na casa da avó
E toda a família reunida.
Lembras-me as tardes
De verão, animadas e
Cheias de alegria.
Quando chego da escola,
Estás a tocar, eu já sei
Que são horas de lanchar.
Estás cá na aldeia
Há muito tempo e
Continuas a funcionar.
Tens um significado
Especial para aquele
Que te ouve a soar.
18
Ricardo G.
Ó sino da igreja,
Que afinado tu és
Sempre que te oiço
Fazes-me lembrar o Natal
Também me lembras
As festas da vila
E se me perder
És tu que me encontras
Quando és ouvido
Tens todos os olhos em ti
Quem a igreja visita
Fica com saudades tuas
As tuas badaladas marcam
De forma a não serem esquecidas
As pessoas que te veem não te esquecem
Pois tão lindo e afinado como tu não há igual
19
Mariana C.
Ouço o sino lá longe
Tem badaladas fortes
No Natal o som dele
Tem outro significado
É mais alegre
É mais vibrante
É nessa altura
Que me lembro de Belém
E faz-me sentir
A saudade mais perto
Saudade
De um jantar com a família junta
Das prendas
Das brincadeiras
Das gargalhadas
Lá fora não há estrelas
Vejo a neve a cair
Ouço o sino a tocar
Cá dentro estou quentinha
Enrolada na manta
Com a minha gatinha
20
Tomás C.
Lembranças em badaladas
É um toque que ecoa
Por toda a minha vida
Numa tarde de domingo
Sentindo a calmaria
Quando o ouvia tocar
Sabia que era tempo
De a missa começar
E ouvir o padre falar
Lembro-me de quando era
A época de Natal
E eu ouvia as músicas
Com o sino a soar
Eu com os meus amigos a cantar
Lembro-me bem do sino
No casamento a tocar
E da noiva na igreja a entrar
21
Inês P.
Quando oiço o sino
Lembro-me de quando era criança
Ele tocava e eu dançava
Quando perto do sino passava
Punha-me a analisar
Como podia ele tocar
Se ninguém junto dele estava
Por vezes era de irritar
E em vez de dançar
Só me apetecia gritar
Se houvesse um casamento
À rua eu saía
Para ouvir o sino a tocar
Quando tocava muitas vezes
Já sabia que coisa boa não era
E saía para descobrir o que acontecera
22
Bernardo R.
Meu sino,
O teu ferro reluz
Sob a luz do sol
À noite, ao luar
És coberto pela penumbra
O teu soar
É invocado inúmeras vezes
Há dias em que é vibrante
Há dias em que é religioso
Há dias em que cobre
A vila de tristeza e pesar
És um símbolo de união e de fé
E símbolo da vida a esvair-se das mãos
As tuas badaladas alegram
Mas torturam a alma com dor e melancolia
23
Inês C.
Raio do sino,
Quando toca, tudo estremece.
Nunca ouvi barulho tão cretino,
Aquelas badaladas só me causam stress.
Todas as minhas noites são interrompidas
Por badaladas que para alguns são sentidas.
Só me preocupo quando tocam a finados
Aí sim, é caso para ficarmos preocupados.
Em dias de casamento tocam mais felizes
Anunciam nova união.
Os que moram perto da igreja,
Esses sim ficam mais infelizes
Com tamanha confusão.
Não simpatizo nada contigo, ó raio do sino!
24
Maria S.
Ó sino, porque não páras de tocar?
Não sei ao certo o que me fazes sentir
Mas lembras-me o passado
O passado em que perguntava à minha avó
O porquê de tocares a toda a hora
Eras um enigma na minha cabeça
Mas agora percebo a tua existência
Tu tocas por vários motivos
Para dares as horas,
Para anunciares a alegria,
Para anunciares a tristeza,
Para anunciares uma perda,
Mas digo-te uma coisa
És irritante, ó sino
25
Martim P.
Quando éramos pequenos
Só queríamos crescer
E agora que o sino
Toca ao entardecer
Percebemos que está a acontecer
Sem nos apercebermos
À medida que o tempo passa
Enquanto dou toques afinados
Na minha guitarra
Ouço da janela
O toque a finados
Do sino da minha terra
O incerto sino
De muitos significados
Traz lembranças mistas
De festividades e atividades
Até avisos importantes
E perdas lastimáveis
Em tempos antigos
O sino era imprescindível
E ainda o é
26
Matilde C.
Sino, meu querido sino
O teu toque
Desperta a freguesia
A subida ao altar
Faz-me sonhar
E sentir o amor a nascer
Já o fim de certas vidas
Provoca-me desespero
E as tuas badaladas
Fazem estremecer fortemente
A minha alma
Por mais longe que estejas
Oiço de perto
O teu esplendor angustiante
Do teu som sinto receio
Receio o futuro
A cada pancada tua
Menos um dia de amores
De dores
E de vida
Vida extremamente sofrida
27
Tomás L.
Ó sino,
Tu soas
Como as andorinhas
Na primavera
E cantas
Nas velhas aldeias
E nas grandes cidades
Ó sino,
Todos sentem
A tua presença
Tu voas a tocar
Ó sino,
Todos dormem
Com o teu embalar
E acordam contigo a berrar
Ó sino,
Tu fazes chorar
Com o teu cantar
Ó sino,
A cada pancada tua
Começam as abelhas a trabalhar
E as ovelhas a berrar
Ó sino,
Há dias em que ninguém
Te consegue aturar
No dia em que o caldo se entornou…
Em 77 palavras apenas, os alunos ginasticaram a sintaxe, escrevendo um texto começado por uma expressão idiomática, onde cada frase só podia ter 11 palavras.
01
Bernardo R.
No dia em que o caldo se entornou, a vida piorou. O meu instrumento, o meu violino que tanto me custou, partiu-se. Berrei, chorei, gritei, mas nada adiantou, tentei colá-lo, remendá-lo, nada ajudou. Só piorou, então protestei, lamentei, estremeci, caí em profunda melancolia, berrei. A minha felicidade escorregou, esvaiu-se das minhas mãos, ficara sem nada. Nessa altura, a rua foi a minha casa, o meu abrigo. As migalhas foram o meu alimento, as vozes, o meu entretenimento.
02
Inês C.
No dia em que o caldo se entornou, o carrossel abanou. Eu estava toda pomposa, andando no carrossel da Feira de Setembro. Já estávamos a girar pelos ares e a minha amiga calada. Estranhei a rapariga mais escandalosa que eu conheço nem sequer gritar. Reparei então que ela não estava a sentir-se bem, mas calei-me. Com a agitação do carrossel, ela acabou por chamar o Gregório. Fiquei furiosa, estragou-me a noite e a roupa com aquela imundice.
03
Inês P.
No dia em que o caldo se entornou, uma amizade acabou. Não esperava que uma saída ao parque acabasse com aquela relação. Foi um mal-entendido que fez com que eu ficasse muito triste. Fiz tudo para aquela amizade não acabar, mas não dava mais. O que eu dizia era sempre muito deturpado da parte dele. Tudo mudou desde aí e vi que não precisava daquele relacionamento. Depois desse momento, senti-me com um peso a menos na vida.
04
Leonor N.
No dia em que o caldo se entornou, pulei da janela. Naquela noite, o meu irmão e eu tivemos uma grande discussão. Pouco tempo depois, a minha mãe entrou no quarto bastante enervada. Ela gritou muito connosco e, logo a seguir, mostrou-nos o cinto. Perguntou-nos qual dos dois queria levar primeiro e apenas ficámos calados. Ela aproximou-se e eu corri imediatamente para a janela e fugi. Corri até à casa dos meus avós e por lá fiquei.
05
Maria S.
No dia em que o caldo se entornou, tudo nele mudou. Eu pensava que aquele dia seria fantástico até algo ter acontecido. Uma crise de ciúmes ia dando no fim de um relacionamento. Ele exaltou-se, mandou-me mensagens que, por algum motivo, eu não recebi. Tentei explicar-lhe o que tinha acontecido, mas não foi muito fácil. Ele julgou que eu o tivesse traído e quis terminar comigo. Eu não deixei, falámos melhor e, no final, ficou tudo bem.
06
Martim P.
No dia em que o caldo se entornou, só queria desaparecer. Embora só tivesse 12 anos, saí às escondidas para me divertir. Vesti a minha melhor roupa e saí em direção à festa. Já estavam todos a dormir, por isso, fechei a porta devagar. Encontrei-me com a Maria Madalena e fomos para a festa juntas. O lugar estava bastante aninado e movimentado, dancei e diverti-me muito. Quando regressei, ao abrir a porta, tinha a minha mãe esperando-me.
07
Tomás F.
No dia em que o caldo se entornou, tudo se queimou. Das casas à floresta, ardeu tudo, sobrando apenas cinza e destroços. Isto começou a partir de uma brincadeira com fósforos e folhas. A curiosidade de um jovem muito explorador foi posta à prova. Após a brincadeira, não se apercebeu de que queimara o jardim. O fogo alastrou às casas vizinhas e chegou rapidamente à floresta. Graças aos bombeiros, o incêndio foi extinto, os vizinhos perderam tudo.
08
Carolina P.
No dia em que o caldo se entornou, a festa acabou. Tudo parecia correr bem no casamento de Briolanja até algo mudar. João, um amigo da noiva, de repente falava em altos berros. Começou a alegar que vira o noivo aos beijos com outra. Briolanja ficou muito destroçada e foi tirar a conversa a limpo. Apontou o dedo indicador, o noivo confessou, traíra-a com a Joana. Esta era a sua irmã caçula, Briolanja acabou com o casamento.
09
Filipa R.
No dia em que o caldo se entornou, parti o pé. Estava a ajudar a minha mãe com as pinturas da casa. Pintei o meu quarto e depois ajudei a pintar a sala. A minha mãe pintava uma parede e eu pintava a outra. Estava em cima de um escadote, mas as minhas pernas tremiam. Eu estava com medo de cair, pois não tenho muito equilíbrio. Até que caí mesmo do escadote e ele também foi atrás.
10
Joaquim C.
No dia em que o caldo se entornou, um acidente aconteceu. Uma tourada que tinha tudo para dar certo tornou-se um pesadelo. Um touro com um físico de outro mundo saiu à rua. Durante metade do tempo do espetáculo, tudo estava a correr bem. Havia recortes realizados por muitos homens experientes e aficionados das touradas. Até que dois homens falharam um recorte, foram colhidos pelo touro. A população entrou em pânico pela situação, a tourada foi encerrada.
11
Madalena C.
No dia em que o caldo se entornou, tive um acidente. Um senhor guarda é que me veio socorrer por ter dores. Ligou imediatamente para o 112 e fui direta para o hospital. Fraturei três vértebras, o fémur da perna esquerda e quatro dedos. Fiquei internada meses e os médicos queriam que ficasse mais tempo. Eu detesto hospitais, por isso, preparei secretamente uma tentativa de fuga. Quando ninguém circulava pelo quarto, saltei da janela, mas estraguei tudo.
12
Miguel F.
No dia em que o caldo se entornou, fiquei de castigo. Estava a brincar com a minha irmã quando um acidente aconteceu. Tentei acertar-lhe com o comando, mas errei e parti a televisão. O porquinho-da-índia gritou e escondeu-se, nós ficámos apenas de boca aberta. Quando os nossos pais chegaram a casa, ficaram vermelhos de raiva. Bateram-nos aos dois e trancaram-me no meu quarto durante duas semanas. No final, ambos tivemos que pagar uma televisão novinha em folha.
13
Tomás C.
No dia em que o caldo se entornou, fui preso injustamente. Estava a passear no mercado quando reparei num homem bastante suspeito. Ele roubava um senhor idoso, que estava a vender peras frescas. Gritei para o ladrão parar, então o criminoso começou a fugir. Fui atrás dele pelas ruas, quando encontrei dois guardas, mandaram-me parar. Perguntaram-me o que eu andava a fazer, disse-lhes o que aconteceu. Mas eles não acreditaram e prenderam-me, confundindo-me com um outro suspeito.
14
Ana V.
No dia em que o caldo se entornou, fiquei muito triste. O meu avô foi para o hospital em estado muito grave. Parecia que a casa estava completamente vazia, sem as nossas brincadeiras. Mas eu sabia que ele era forte e iria ultrapassar tudo. Foram dias muito difíceis para a minha família, sempre muito preocupada. Entretanto o meu avô melhorou, veio para casa sorridente e abraçou-me. A minha felicidade voltou de novo e foi-se embora a tristeza.
15
Leonor C.
No dia em que o caldo se entornou, o passarinho fugiu. E não foi apenas porque a porta da gaiola estava aberta. Foi porque a janela da cozinha ficou aberta para entrar claridade. A família andava muito distraída e não reparou no pequeno incidente. Depois de algum tempo muito ocupados, todos repararam na gaiola vazia. Entraram em pânico, mas parece que Deus não os deixaria sofrendo. Pois acontece que o passarinho rapidamente voltou para casa com medo.
16
Madalena N.
No dia em que o caldo se entornou, alguém foi enganado. Ulisses, farto da esposa reclamando da torneira a pingar, resolveu surpreendê-la. No aniversário de casamento, como presente, arranjou-lhe a maldita torneira velha. Ao ver a surpresa, a esposa agradeceu com a respiração ofegante. Uns minutos depois, ouviu-se a campainha de casa a tocar insistentemente. Ao abrir a porta, Ulisses viu o canalizador com um buquê. Afinal de contas, a sua esposa queria outro homem como prenda.
17
Matilde F.
No dia em que o caldo se entornou, aquela casa desabou. A avó Alberta o jantar desperdiçou porque a porta aberta deixou. O Bolinhas, o gato da vizinha, pela cozinha entrou, cheirou-lhe bem. Aproximou-se da panela e, como podem imaginar, isto bem não acabou. Alberta foi ver do caldo e com uma tragédia se deparou. Uma magnífica sopa o gato derramou, por todo o chão ficou. A velha, com fome e sem caldo, o gato cozinhou, gostou.
18
Naíma R.
No dia em que o caldo se entornou, soube-se a verdade. Quando Carla revelou a traição, até a tijela acabou no chão. Mário ficou chocado sobretudo assim que soube a identidade do amante… No segundo seguinte, Mário agrediu o amante, seu irmão, com força. A polícia foi chamada e o Mário foi levado e processado. No momento em que ele foi libertado, procurou Carla com precaução. Mas já estava casada com um primo de Mário, que desastre.
19
Santiago S.
No dia em que o caldo se entornou, a Sissi chorou. A irmã torturou-a com as suas imensas bonecas Barbie sem cabeça. Foi uma tortura tal que o estojo de maquilhagem ficou destruído. Até o computador parecia aterrorizado, com parte do teclado luminoso partido. Enquanto as duas se matavam, a mãe subia furiosamente as escadas. Quando viu a guerra montada no quarto, mandou-as arrumar tudo severamente. E a Sissi enterrou-se nos seus pensamentos mais profundos e negativos.
20
Tomás C.
No dia em que o caldo se entornou, a decoração mudou. Estávamos a chegar a uma data mesmo muito especial, o Natal. A minha família e eu decidimos decorar a árvore de Natal. Um bonequinho ali, luzes a enfeitar, a estrela em cima brilhando. Fizemos um grande e árduo trabalho em equipa, valeu a pena. Durante a noite, os meus amigos felinos resolveram brincar, destruindo tudo. Logo de manhã, encontrámos a árvore estendida no chão e despida.