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Camões, Engenho e Arte

Comemorações do V Centenário do Nascimento de Camões

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Alunos de 9.º Ano

(Re)Criando Camões

A propósito das comemorações do V Centenário do Nascimento de Camões, os alunos de 9.º ano criaram, ao longo do 1.º período, poemas que estabelecem pontes entre o clássico e o moderno a partir do diálogo entre a obra camoniana e linguagens contemporâneas.

A Lírica Camoniana

A lírica camoniana compreende um conjunto de poesias muito diversificadas tanto a nível temático como a nível formal. Distribuem-se por composições de medida velha, integradas na tradição da lírica peninsular, e composições de medida nova, que adotam as formas que chegaram a Portugal vindas de Itália. Os temas tratados são muito variados e ricos. Entre eles, podemos destacar a mulher, o amor, o desconcerto do mundo, a natureza e a reflexão sobre a vida pessoal.

https://ensina.rtp.pt

Poemas de Camões e recriações dos alunos

Luís de Camões

 

Ao desconcerto do Mundo

 

Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E, pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.

Tomás C.

 

Ao desconcerto do mundo

 

Alguns vi sempre passar

Na vida fácil do copianço,

Vi-os sempre a arriscar,

A avançar sem falhanço,

Felizes sem marcas deixar.

Larguei por isso o marranço

E logo me fui estrear,

Fui avisado, mas fui tanso

Neste meu mundo de azar,

Onde ao contrário avanço.

Madalena N.

 

Ao desconcerto do mundo

 

As vítimas vi escutar

Na escola ofensas socadas

E, para mais me espantar,

Agressores vi afirmar

Inocência em ciladas.

Tentando impedir assim

O mal de ser espalhado,

Fiz queixa, mas fui troçado.

Parece que, para mim,

Anda o mundo baralhado.

Luís de Camões

​​

 

 

A um fidalgo que lhe tardava

Com uma camisa galante que lhe prometera

 

Quem no Mundo quiser ser

Havido por singular,

Para mais se engrandecer,

Há de trazer sempre o dar

Nas ancas do prometer.

E já que Vossa Mercê

Largueza tem por divisa,

Como todo o mundo vê,

Há mister que tanto dê,

Que venha dar a camisa.

Matilde C.

 

 

A um tratante que não cumpriu

Com a jura de amor eterno que fizera

 

Quem no mundo quiser amar

E em troca ser respeitado

Não deve à toa prometer.

Ninguém merece no altar

Ficar sozinho a chorar

Por quem não quis aparecer.

Um amor com duas caras

É somente pura ilusão.

As atitudes devem ser claras,

Com bondade no coração.

Carolina P.

 

 

A uma vizinha que me tardava

Com um saco de limões que me prometera

 

Quem no mundo quiser ser

Mentiroso e desumilde

Observe a minha vizinha

Que não cumpre a palavrinha.

Prometeu-me alguns limões

Para um refresco fazer,

Mas o raio da mulher

Esqueceu-se da promessa

E nunca mos veio trazer.

Quem promete fica a dever!

Luís de Camões

Vida de minha alma!

 

Dois tormentos vejo

Grandes por extremo:

Se vos vejo, temo;

E se não, desejo.

Quando me despejo

E venho a escolher,

Se temo o desejo,

Desejo o temer!

Inês P., Madalena H.,

Maria S., Rafael C. e Tomás L.

Vida de estudante!

 

Dois pesadelos enfrento

Bem grandes por sinal:

Se estudo, aborreço-me

E se não, sinto-me mal.

Ó rico TPC do inferno,

Continuas por cumprir,

Fechado quero o caderno

Ou será que o devo abrir?

Luís de Camões

 

 

Se Helena apartar

Do campo seus olhos,

Nascerão abrolhos.

 

A verdura amena,

Gados que pasceis,

Sabei que a deveis

Aos olhos de Helena.

Os ventos serena,

Faz flores de abrolhos

O ar de seus olhos.

 

Faz serras floridas,

Faz claras as fontes:

Se isto faz nos montes,

Que fará nas vidas?

Trá-las suspendidas,

Como ervas em molhos,

Na luz de seus olhos.

 

Os corações prende

Com graça inumana;

De cada pestana

Uma alma lhe pende.

Amor se lhe rende

E, posto em joelhos,

Pasma nos seus olhos.

Madalena C.

 

 

Se Helena se afastar

Um pouco dos meus olhos,

O coração fica a saltar.

 

Do campo se aproxima

E no meio do pasto

Anda Helena sorrateira

Com os seus olhos azuis,

Caçando sem canseira.

As horas vão passando

E ao sol vai brincando.

 

É uma gata encantadora,

Com muitos pretendentes,

No amor é arrasadora,

Mas eles ficam contentes.

Lutam todos por Helena

Sempre com esperança

De protagonismo em cena.

 

Óscar ou Sebastião?

Quem roubará o coração

A Helena de olhos azuis?

O Óscar é barrigudo

Além de bochechudo.

Charmoso é o Sebastião,

Mas tem corpo de anão.

Luís de Camões

 

 

Está o lascivo e doce passarinho

Com o biquinho as penas ordenando,

O verso sem medida, alegre e brando,

Despedindo no rústico raminho.

O cruel caçador, que do caminho

Se vem calado e manso desviando,

Com pronta vista a seta endireitando,

Lhe dá no Estígio Lago eterno ninho.

Desta arte o coração, que livre andava,

(Posto que já de longe destinado)

Onde menos temia, foi ferido.

Porque o Frecheiro cego me esperava,

Para que me tomasse descuidado,

Em vossos claros olhos escondido.

Margarida C.

 

 

Está o lascivo e doce passarinho

Pequeno e de pena muito azulinha

Cantando sobre a estreita janelinha

Como se tivesse encontrado o ninho

 

Aguarda uma carta para levar

A uma certa donzela muito amada

Escrita com letrinha arredondada

Que a fará naturalmente sonhar

 

Maravilhada com aquele amor

Numa folha de papel demonstrado

Espera o passarinho encantador

 

Como o Cupido e sem qualquer canseira

Para aquecer um coração isolado

O passarinho ultrapassa a fronteira

Luís de Camões

 

 

Enforquei minha Esperança;

Mas Amor foi tão madraço,

Que lhe cortou o baraço.

 

Foi a Esperança julgada

Por setença da Ventura

Que, pois me teve à pendura,

Que fosse dependurada:

Vem Cupido com a espada,

Corta-lhe cerce o baraço.

Cupido, foste madraço.

Leonor S.

 

 

Enforquei minha esperança

De vir a amar alguém

Que fosse de confiança.

 

Vi o amor derramado

Longe do meu amado

E o Cupido com intenção

Acertou-me no coração.

Como uma flor a crescer

E ouvindo os passarinhos,

A esperança vi renascer.

André V.

 

 

Enforquei minha esperança

De desistir de um sonho

Isso seria medonho

 

Lutarei sem desistir

Um sonho quero realizar

Uma vida melhor alcançar

E todo planeta conquistar

Num dos três grandes a jogar

E a Bola de Ouro ganhar

Lutarei sem desistir

Inês C., Maria S. e Martim F.

 

 

Enforquei minha esperança

Podia ter sido hoje

Iludi-me com confiança

 

A riqueza foge de mim

O que já é habitual

Bem olho para o boletim

Mas nenhum número é igual

Revi tim-tim por tim-tim

E voltei a fazer asneira

Terei sorte sexta-feira?

Madalena H. e Tomás F.

 

 

Enforquei minha esperança

De um dia vir a ser rico

Bem mais do que a vizinhança.

 

Foi dinheiro desperdiçado

Em jogo descontrolado

E de aposta em aposta

Me enforquei sem baraço.

Vivi na doce ilusão

De ganhar sem trabalhar,

Desgraçado sou e madraço.

Bruno R. e Guilherme A.

 

 

Enforquei minha esperança

Por perder toda a poupança

E não poder ir a França.

 

Aquela noite foi de esquecer

Após tanto dinheiro perder

Naquele casino amaldiçoado

Pela ganância fui tramado.

Quando apostei o mealheiro

Perdi logo o guito inteiro

Perdi França, fui interesseiro!

Inês P. e Tomás L.

 

 

Enforquei minha esperança

De uma viagem em criança

Na memória ficar

 

Em viajar o pai pensou

E a mãe logo concordou

Eu fiquei sem perceber

Que iam eles escolher

Alemanha ou Angola

Moçambique pode ser

Viajarei sem esquecer?

Luís de Camões

Verdes são os campos,

De cor de limão:

Assim são os olhos

Do meu coração.

 

Campo, que te estendes

Com verdura bela;

Ovelhas, que nela

Vosso pasto tendes;

De ervas vos mantendes

Que traz o Verão,

E eu das lembranças

Do meu coração.

 

Gado, que pasceis

Com contentamento,

Vosso mantimento

Não no entendeis;

Isso que comeis

Não são ervas, não:

São graças dos olhos

Do meu coração.

Alice C., Andrea I., Filipa R., 

Gonçalo N., Mariana C. e Vicente R.

Preta é a noite

Da cor do apagão

Assim são os olhos

Do meu irmão.

 

Tenho uma família enorme

Que cabe toda no coração

Todos adoro sem exceção.

Às vezes zango-me imenso

E apetece-me logo fugir

Mas paro, penso e repenso

Em quem me dá o pão

Amor, carinho e perdão.

 

As brigas de irmãos existem

E, por vezes, são violentas,

Quando os pais assistem,

Deixa de haver tormentas.

Ao jantar a guerra regressa

Com um olhar a provocar,

Cruzam-se os olhos depressa

Para novo duelo começar.

Santiago S.

Verdes são os mares,

Como o verdilhão,

Assim são os olhos

Do meu chuchuzão.

 

Ondas que rebentam,

Estrelas-do-mar

Que ali irradiam,

Uma voz a bailar

Tão bela a soar,

Ondas do cabelo

Eu contemplo e são

Do meu chuchuzão.

 

Recifes de corais,

Grande multidão,

Oceanos tais,

Pintados à mão.

Isso que limpais

Não são algas, não:

É água dos olhos

Do meu chuchuzão.

Luís de Camões

Perdigão perdeu a pena

Não há mal que lhe não venha.

 

 

Perdigão que o pensamento

Subiu a um alto lugar,

Perde a pena do voar,

Ganha a pena do tormento.

Não tem no ar nem no vento

Asas com que se sustenha:

Não há mal que lhe não venha.

 

Quis voar a uma alta torre,

Mas achou-se desasado;

E, vendo-se depenado,

De puro penado morre.

Se a queixumes se socorre,

Lança no fogo mais lenha:

Não há mal que lhe não venha.

Joaquim C.

Perdigão perdeu a pena

Não há cão que não o fareje.

 

 

Perdigão que foi encontrado

Das estevas saiu rápido

Para não ser agarrado

Por aquele inimigo ávido.

Atrás dele ia ladrando,

Correndo muito e saltando,

Mas não foi nunca apanhado.

 

Tanto voou o perdigão,

Que nem mesmo o caçador,

O melhor atirador,

Lhe conseguiu pôr a mão.

Foram três tiros mal gastos

Que o safaram do terror

De terminar no fogão.

Luís de Camões

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E enfim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Miguel F.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

Mudam-se escolhas e muda a pessoa,

Comigo a mudança foi sendo boa,

Adquirindo novas capacidades.

 

Sofre-se sempre com a novidade,

Há diferença naquilo que faço:

No passado, permanece o fracasso,

No presente, ganha-se humildade.

 

A vida enche-se de mil aflições

E o que um dia me pareceu tão fácil

Coloca-me agora interrogações.

 

Mas como sou bastante persistente,

Apesar de também um pouco frágil,

Supero cada obstáculo crescente.

Luís de Camões

Descalça vai para a fonte

Leonor pela verdura;

Vai formosa e não segura.

 

Leva na cabeça o pote,

O testo nas mãos de prata,

Cinta de fina escarlata.

Sainho de chamalote;

Traz a vasquinha de cote.

Mais branca que a neve pura;

Vai formosa e não segura.

 

Descobre a touca a garganta,

Cabelos de ouro o trançado,

Fita de cor de encarnado,

Tão linda que o mundo espanta;

Chove nela graça tanta

Que dá graça a formosura;

Vai formosa e não segura.

Martim C., Matilde F. e Samuel R.

Andando vai para a escola

Leonor pela calçada

Vai amuada e bem arranjada

 

Leva uma curta minissaia

E um top preto brilhante

A delinear a cinturinha

Vai toda radiante

Despertando a atenção

De qualquer rapariguinha

Com a sua bota elegante

 

Anda no décimo ano

Mas gosta pouco de estudar

Vai à escola só bisbilhotar

E também namoriscar

Nas aulas em vez de trabalhar

Fica na lua a pensar

Com quem se vai encontrar

Luís de Camões

Aquela triste e leda madrugada,   

Cheia toda de mágoa e de piedade,

Enquanto houver no mundo saudade

Quero que seja sempre celebrada.

 

Ela só quando, amena e marchetada,

Saía, dando ao mundo claridade,

Viu apartar-se de uma outra vontade,

Que nunca poderá ver-se apartada.

 

Ela só viu as lágrimas em fio,

Que de uns e de outros olhos derivadas,

Se acrescentaram em grande e largo rio;

 

Ela viu as palavras magoadas,

Que puderam tornar o fogo frio

E dar descanso às almas condenadas.

Leonor C.

Aquela triste e leda madrugada,

Por todos lamentada, comovente,

Já cheia de saudade permanente,

Desejo que assim seja relembrada.

 

Houve uma paz sentida no verão,

A convivência, os sorrisos duraram,

Momentos inesquecíveis marcaram

Eternamente este meu coração.

 

Pela nossa partida já sofremos,

Agora ao lar nós vamos regressar,

Vamos voltar para onde pertencemos.

 

Longe da bela casa de verão,

Que será para sempre recordada,

Pelos bons momentos de diversão.

Luís de Camões

Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor,
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Lourenço M.

Amor é um fogo que arde sem se ver,

É ver de forma muito diferente:

É andar acordado, mas dormente,

É querer o que não se pode ter.

 

É ter prazer em dar sem receber,

É ser rico mesmo sem ter dinheiro,

É gostar de cheirar não tendo cheiro,

É um sofrimento que se quer ter.

 

É tristeza com sabor a ilusão,

É paixão que não se pode conter,

É sentimento que abre o coração.

 

Mas como fazer para não sofrer?

Morrerei sem entender o que sinto?

O amor é assim, doa a quem doer!​

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Após a leitura e análise do poema “Ó sino da minha aldeia”, de Fernando Pessoa, os alunos dedicaram 77 palavras ao sino. Eis o resultado.

O Sino

1

Madalena N.

Erguido no alto da torre,

solitário e firme,

fala o sino.

 

Pesa o silêncio, tornando-o som.

Mas o som é mais do que apenas barulho;

é uma lembrança de que estamos aqui,

no mesmo instante,

a viver o mesmo minuto.

 

O sino é a voz

que fala para todos

e por todos nós.

 

Mas ninguém pára para ouvi-lo.

 

Quando o seu toque final

deixa de ressoar,

o sino, tristemente,

volta a aguardar

a hora certa para falar.

2

Naíma R.

Ó sino, sino da minha vila,

já voltaste a tocar afinado,

apenas torço para que

não seja a finados.

 

O teu toque é escandaloso,

irritante muitas vezes,

mas também tem

sentimentos escondidos.

 

Podes anunciar as horas

ou, por vezes,

anunciar lágrimas,

ou uma bela nova esposa.

 

Ó sino, tu que me trazes ódio,

mas também a esperança 

do amor.

 

Ó sino,

o teu toque

é alegre ou triste?

As lágrimas

que daqui consigo ouvir

são de sofrimento?

3

Matilde F.

Ó sino velho,

tocas quando chego,

tocas quando abalo.

 

Ó sino velho,

em ti nunca reparei

e um poema te escrevo.

 

Ó sino velho,

como é que me despertas

tal sentimento?!

 

Ó sino velho,

a cada badalada tua

distancias-me de um sonho 

que já foi realidade.

 

Ó sino velho,

o teu som arrastado

traz-me conforto,

traz-me tristeza e felicidade.

 

Traz-me saudade…

 

Saudade do que já fui

saudade de algo

que nunca voltarei a ser.

 

Ó sino velho!

4

Miguel S.

Ó sino,

Lembro-me de quando

Era pequeno

No tempo em que

Podia divertir-me

Em que não havia TPC

De quando era livre

E ia à catequese rezar

Ouvia cantar

Estava sempre a sorrir

Ó sino,

O teu toque ativa a minha nostalgia

Faz-me rir de saudade

De quando sentia alegria

De fazer o que queria

Imaginar era tudo

Não havia limites na criatividade

Ó sino,

Fiquei com mais idade

Mas tenho memórias

Que serão para sempre relembradas

5

David M.

Só me fazes sofrer

Cada vez que te ouço

Só me apetece morrer

 

A dormir belissimamente

A minha merecida sesta

Vais tu sorrateiramente

E transformas-te em festa

 

Dantes eras conveniente

Eras importante

Mas com as novas tecnologias 

Tornaste-te agoniante

 

Tens tantas coisas más

Mas até te acho bonito

Cada vez que saio à rua

Vejo-te, ó sino!

 

Não sei com acabar o poema

Só me fazes trabalhar

Vai arranjar o que fazer

E pára de me chatear.

6

Tomás C.

Angustiado

 

Ao ouvir o teu badalar,

penso no tempo

que está a passar

e no que poderia ter acabado.

 

Depois de tocares,

ouve-se o silêncio da noite 

que se vem instalar,

onde o vazio já lá está.

 

Como uma birra

de uma criança

ouço-te por todo o lado

lento como um caracol.

 

Com o teu soar,

a minha alma fica fria,

mas ao encerrar

fico feliz.

 

Sei que aqui vais

permanecer,

para tocar 

a outros como eu.

7

Rodrigo P.

Ó sino da minha igreja, quando tocas,

tento perceber se são as horas,

se é um dia especial, um falecimento…

 

Tantas vezes consegues despertar

duas lembranças especiais na minha vida,

os falecimentos do meu pai e avó.

Cada batida tua é uma lembrança deles.

 

Acordo todos os dias contigo, ó sino,

e todos os dias os recordo.

Lembro-me de Portel acordar triste

como disse a mãe de uma colega de turma.

 

Mas tenho as memórias boas comigo.

8

Leonor C.

O sino,

Bem discreto,

Belo e elegante

Parece tão delicado,

Mas é forte 

E chamativo

E ainda,

Sereno e calmo 

De certa forma

Dá também 

Uma sensação boa 

Quando o ouvimos tocar

No Natal, nos casamentos,

Ou o simples toque

Que conta as horas

O sino,

Tocando todos os dias,

De meia em meia hora

Desde as sete até 

Às dez e meia,

Todos os dias

Será que também 

Não se cansa?

E se um dia parasse?

9

Samuel R.

Ó sino, meu relógio, 

na hora certa é quando tocas.

 

Estejas mais a Sul 

ou mais a Norte 

a badalada é o teu forte.

 

Em qualquer canto ou esquina 

ouve-se a tua batida.

 

Pareces o meu despertador 

toca e toca sem parar,

esteja eu a correr ou a andar 

consigo ouvir-te a badalar. 

 

O teu aspeto é como 

um cone feito de ferro 

que está em cima 

de uma igreja.

 

Ó sino, és a melodia 

da nostalgia.

10

Martim G.

Ó sino da minha vila,

não gosto das tuas badaladas,

mas preciso de ti,

sem ti não sei as horas,

se há missa

ou quando devo rezar.

 

Ó sino,

às vezes não me deixas dormir,

mas obrigado pelos teus avisos 

embora as tuas pancadas

me deem dores de cabeça. 

 

Ó sino ferrugento,

és forte como a raiz de uma árvore 

e és chato como um bebé a chorar.

 

Ó sino maçador,

às vezes, até gosto de ti!

11

Simão P.

Quando o sino ouço

o Natal faz-me lembrar

a época do ano

de que mais gosto.

As prendas,

o amor,

as histórias

são a melhor coisa

que se pode ter.

Adoro a estrelinha

em cima do pinheiro,

as badaladas do sino,

o quentinho da lareira,

o frio da rua.

Lembra-me o inverno

de quando se está

na escola com frio

e o sino a tocar

e só se quer ir para casa 

comer a comidinha dos avós.

12

Miguel F.

Toques do sino

 

Sino da minha aldeia,

Tu que avisas as horas,

Estás lá nos momentos felizes,

Estás lá nos momentos tristes.

 

Posso não pensar muito em ti,

Mas sempre que oiço

As tuas longas badaladas,

Sinto uma tranquilidade na alma.

 

Às vezes surpreendes-me

Quando estou perto da igreja.

E outras vezes estamos reunidos

Para ouvir a tua melodia afinada.

 

Importante, melancólico e alegre

Todas estas características

num simples sino.

Isto é o que te faz especial.

13

Margarida C.

Pendurado naquela igreja

 

Há muito que fora brilhante

Mas o seu brilho foi ofuscado

Por sujidade de anos passados

 

Lá de cima

Diz-nos sempre as horas

Com pancadas que soam

Em toques afinados

 

A sua melodia ouve-se

Em casamentos ou funerais

Como uma sinfonia

A alegrar ou desalegrar

 

Na Pascoa, Natal, Ano Novo

Celebrações que com a sua música

Me recordam momentos divinos

 

Escuteira sou e com ele cresci

Nesta grande comunidade

As minhas promessas lhe fiz

14

Isabel R.

Sino, ó lindo sino

Sino, ó lindo sino
tão melodioso soas
e ninguém te dá ouvidos

Sino, ó lindo sino
esbelto te aparentas
e ninguém te dá atenção

Sino, ó lindo sino
antes um relógio eras
e agora atrasado soas

Sino, ó lindo sino
boas memórias me lembras
dantes pequena, agora crescida

Sino, ó lindo sino
o meu coração vibra

ao ouvir o teu som

Sino, ó lindo sino
observo-te e admiro-te
com um sorriso, um suspiro

15

Madalena C.

Ao longe ouço o sino 

 

Ouço-te ao longe 

Desde pequenina, 

Mas já não tens

A mesma vibração.

 

Quando te ouço,

Cada vez tenho 

Mais saudades.

 

No Natal menos te quero,

A mesa denúncia 

Ausências importantes.

 

Podia ter mais memórias

Do que as que criámos juntas,

Mas lembro-me delas

Com todo o carinho.

 

No dia que me deixaste, 

O sino não parava

De badalar triste.

 

Das memórias mais bonitas

Que tivemos em comum,

Recordo a primeira viagem

Juntas!

16

Lourenço M.

Da igreja ouve-se o sino

Por vezes desperta

Por vezes acalma

Por vezes informa sobre a hora

 

Transmite um sentimento de vazio

Mas também uma sensação de alegria

Principalmente quando temos companhia

 

O som do sino une as pessoas 

Nas grandes festividades

Como no Natal, Páscoa ou Carnaval

Ou também na hora da missa

 

O sino enorme vê-se lá em cima

No alto da igreja sempre a tocar

E quando passo por ele 

Ponho-me logo a olhar

17

Filipa R.

O sino que toca na aldeia

 

Sino da minha terra,

Lembras-me muita coisa

Que eu não consigo explicar.

 

Lembras-me o Natal

Na casa da avó

E toda a família reunida.

 

Lembras-me as tardes

De verão, animadas e 

Cheias de alegria.

 

Quando chego da escola, 

Estás a tocar, eu já sei

Que são horas de lanchar.

 

Estás cá na aldeia

Há muito tempo e

Continuas a funcionar.

 

Tens um significado 

Especial para aquele 

Que te ouve a soar.

18

Ricardo G.

Ó sino da igreja,

Que afinado tu és

Sempre que te oiço

Fazes-me lembrar o Natal

 

Também me lembras

As festas da vila

E se me perder

És tu que me encontras

 

Quando és ouvido

Tens todos os olhos em ti

Quem a igreja visita

Fica com saudades tuas

 

As tuas badaladas marcam

De forma a não serem esquecidas

As pessoas que te veem não te esquecem

Pois tão lindo e afinado como tu não há igual

19

Mariana C.

Ouço o sino lá longe

Tem badaladas fortes

No Natal o som dele

Tem outro significado

É mais alegre

É mais vibrante

É nessa altura

Que me lembro de Belém

E faz-me sentir

A saudade mais perto

Saudade

De um jantar com a família junta

Das prendas

Das brincadeiras

Das gargalhadas

Lá fora não há estrelas

Vejo a neve a cair

Ouço o sino a tocar

Cá dentro estou quentinha

Enrolada na manta

Com a minha gatinha

20

Tomás C.

Lembranças em badaladas

 

É um toque que ecoa

Por toda a minha vida

Numa tarde de domingo

Sentindo a calmaria

 

Quando o ouvia tocar

Sabia que era tempo

De a missa começar

E ouvir o padre falar

 

Lembro-me de quando era

A época de Natal

E eu ouvia as músicas

Com o sino a soar

Eu com os meus amigos a cantar

 

Lembro-me bem do sino

No casamento a tocar

E da noiva na igreja a entrar

21

Inês P.

Quando oiço o sino

Lembro-me de quando era criança 

Ele tocava e eu dançava 

 

Quando perto do sino passava

Punha-me a analisar 

Como podia ele tocar

Se ninguém junto dele estava 

 

Por vezes era de irritar 

E em vez de dançar 

Só me apetecia gritar

 

Se houvesse um casamento

À rua eu saía

Para ouvir o sino a tocar

 

Quando tocava muitas vezes

Já sabia que coisa boa não era 

E saía para descobrir o que acontecera

22

Bernardo R.

Meu sino,

O teu ferro reluz

Sob a luz do sol

À noite, ao luar

És coberto pela penumbra

O teu soar

É invocado inúmeras vezes

Há dias em que é vibrante

Há dias em que é religioso

Há dias em que cobre

A vila de tristeza e pesar

És um símbolo de união e de fé

E símbolo da vida a esvair-se das mãos

As tuas badaladas alegram

Mas torturam a alma com dor e melancolia

23

Inês C.

Raio do sino,

Quando toca, tudo estremece.

Nunca ouvi barulho tão cretino,

Aquelas badaladas só me causam stress.

 

Todas as minhas noites são interrompidas

Por badaladas que para alguns são sentidas.

Só me preocupo quando tocam a finados

Aí sim,  é caso para ficarmos preocupados.

 

Em dias de casamento tocam mais felizes

Anunciam nova união.

Os que moram perto da igreja,

Esses sim ficam mais infelizes

Com tamanha confusão.

Não simpatizo nada contigo, ó raio do sino!

24

Maria S.

Ó sino, porque não páras de tocar? 

Não sei ao certo o que me fazes sentir 

Mas lembras-me o passado 

O passado em que perguntava à minha avó 

O porquê de tocares a toda a hora 

 

Eras um enigma na minha cabeça 

Mas agora percebo a tua existência 

 

Tu tocas por vários motivos 

Para dares as horas,

Para anunciares a alegria,

Para anunciares a tristeza, 

Para anunciares uma perda,

Mas digo-te uma coisa 

És irritante, ó sino

25

Martim P.

Quando éramos pequenos 

Só queríamos crescer

E agora que o sino 

Toca ao entardecer

Percebemos que está a acontecer 

Sem nos apercebermos 

À medida que o tempo passa

Enquanto dou toques afinados

Na minha guitarra

Ouço da janela

O toque a finados

Do sino da minha terra 

O incerto sino

De muitos significados 

Traz lembranças mistas

De festividades e atividades 

Até avisos importantes 

E perdas lastimáveis

Em tempos antigos 

O sino era imprescindível 

E ainda o é 

26

Matilde C.

Sino, meu querido sino

O teu toque

Desperta a freguesia 

A subida ao altar

Faz-me sonhar

E sentir o amor a nascer

Já o fim de certas vidas

Provoca-me desespero

E as tuas badaladas

Fazem estremecer fortemente

A minha alma 

Por mais longe que estejas

Oiço de perto

O teu esplendor angustiante 

Do teu som sinto receio

Receio o futuro

A cada pancada tua

Menos um dia de amores

De dores

E de vida

Vida extremamente sofrida

27

Tomás L.

Ó sino,

Tu soas

Como as andorinhas

Na primavera

E cantas

Nas velhas aldeias

E nas grandes cidades

 

Ó sino,

Todos sentem

A tua presença

Tu voas a tocar

 

Ó sino,

Todos dormem

Com o teu embalar

E acordam contigo a berrar

 

Ó sino,

Tu fazes chorar

Com o teu cantar

 

Ó sino,

A cada pancada tua

Começam as abelhas  a trabalhar

E as ovelhas a berrar

 

Ó sino,

Há dias em que ninguém

Te consegue aturar

No dia em que o caldo se entornou…

Em 77 palavras apenas, os alunos ginasticaram a sintaxe, escrevendo um texto começado por uma expressão idiomática, onde cada frase só podia ter 11 palavras.

01

Bernardo R.

No dia em que o caldo se entornou, a vida piorou. O meu instrumento, o meu violino que tanto me custou, partiu-se. Berrei, chorei, gritei, mas nada adiantou, tentei colá-lo, remendá-lo, nada ajudou. Só piorou, então protestei, lamentei, estremeci, caí em profunda melancolia, berrei. A minha felicidade escorregou, esvaiu-se das minhas mãos, ficara sem nada. Nessa altura, a rua foi a minha casa, o meu abrigo. As migalhas foram o meu alimento, as vozes, o meu entretenimento.

02

Inês C.

No dia em que o caldo se entornou, o carrossel abanou. Eu estava toda pomposa, andando no carrossel da Feira de Setembro. Já estávamos a girar pelos ares e a minha amiga calada. Estranhei a rapariga mais escandalosa que eu conheço nem sequer gritar. Reparei então que ela não estava a sentir-se bem, mas calei-me. Com a agitação do carrossel, ela acabou por chamar o Gregório. Fiquei furiosa, estragou-me a noite e a roupa com aquela imundice.

03

Inês P.

No dia em que o caldo se entornou, uma amizade acabou. Não esperava que uma saída ao parque acabasse com aquela relação. Foi um mal-entendido que fez com que eu ficasse muito triste. Fiz tudo para aquela amizade não acabar, mas não dava mais. O que eu dizia era sempre muito deturpado da parte dele. Tudo mudou desde aí e vi que não precisava daquele relacionamento. Depois desse momento, senti-me com um peso a menos na vida.

04

Leonor N.

No dia em que o caldo se entornou, pulei da janela. Naquela noite, o meu irmão e eu tivemos uma grande discussão. Pouco tempo depois, a minha mãe entrou no quarto bastante enervada. Ela gritou muito connosco e, logo a seguir, mostrou-nos o cinto. Perguntou-nos qual dos dois queria levar primeiro e apenas ficámos calados. Ela aproximou-se e eu corri imediatamente para a janela e fugi. Corri até à casa dos meus avós e por lá fiquei.

05

Maria S.

No dia em que o caldo se entornou, tudo nele mudou. Eu pensava que aquele dia seria fantástico até algo ter acontecido. Uma crise de ciúmes ia dando no fim de um relacionamento. Ele exaltou-se, mandou-me mensagens que, por algum motivo, eu não recebi. Tentei explicar-lhe o que tinha acontecido, mas não foi muito fácil. Ele julgou que eu o tivesse traído e quis terminar comigo. Eu não deixei, falámos melhor e, no final, ficou tudo bem.

06

Martim P.

No dia em que o caldo se entornou, só queria desaparecer. Embora só tivesse 12 anos, saí às escondidas para me divertir. Vesti a minha melhor roupa e saí em direção à festa. Já estavam todos a dormir, por isso, fechei a porta devagar. Encontrei-me com a Maria Madalena e fomos para a festa juntas. O lugar estava bastante aninado e movimentado, dancei e diverti-me muito. Quando regressei, ao abrir a porta, tinha a minha mãe esperando-me.

07

Tomás F.

No dia em que o caldo se entornou, tudo se queimou. Das casas à floresta, ardeu tudo, sobrando apenas cinza e destroços. Isto começou a partir de uma brincadeira com fósforos e folhas. A curiosidade de um jovem muito explorador foi posta à prova. Após a brincadeira, não se apercebeu de que queimara o jardim.  O fogo alastrou às casas vizinhas e chegou rapidamente à floresta. Graças aos bombeiros, o incêndio foi extinto, os vizinhos perderam tudo.

08

Carolina P.

No dia em que o caldo se entornou, a festa acabou. Tudo parecia correr bem no casamento de Briolanja até algo mudar. João, um amigo da noiva, de repente falava em altos berros. Começou a alegar que vira o noivo aos beijos com outra. Briolanja ficou muito destroçada e foi tirar a conversa a limpo. Apontou o dedo indicador, o noivo confessou, traíra-a com a Joana. Esta era a sua irmã caçula, Briolanja acabou com o casamento.

09

Filipa R.

No dia em que o caldo se entornou, parti o pé. Estava a ajudar a minha mãe com as pinturas da casa. Pintei o meu quarto e depois ajudei a pintar a sala. A minha mãe pintava uma parede e eu pintava a outra. Estava em cima de um escadote, mas as minhas pernas tremiam. Eu estava com medo de cair, pois não tenho muito equilíbrio. Até que caí mesmo do escadote e ele também foi atrás.

10

Joaquim C.

No dia em que o caldo se entornou, um acidente aconteceu. Uma tourada que tinha tudo para dar certo tornou-se um pesadelo. Um touro com um físico de outro mundo saiu à rua. Durante metade do tempo do espetáculo, tudo estava a correr bem. Havia recortes realizados por muitos homens experientes e aficionados das touradas. Até que dois homens falharam um recorte, foram colhidos pelo touro. A população entrou em pânico pela situação, a tourada foi encerrada.

11

Madalena C.

No dia em que o caldo se entornou, tive um acidente. Um senhor guarda é que me veio socorrer por ter dores. Ligou imediatamente para o 112 e fui direta para o hospital. Fraturei três vértebras, o fémur da perna esquerda e quatro dedos. Fiquei internada meses e os médicos queriam que ficasse mais tempo. Eu detesto hospitais, por isso, preparei secretamente uma tentativa de fuga. Quando ninguém circulava pelo quarto, saltei da janela, mas estraguei tudo.

12

Miguel F.

No dia em que o caldo se entornou, fiquei de castigo. Estava a brincar com a minha irmã quando um acidente aconteceu. Tentei acertar-lhe com o comando, mas errei e parti a televisão. O porquinho-da-índia gritou e escondeu-se, nós ficámos apenas de boca aberta. Quando os nossos pais chegaram a casa, ficaram vermelhos de raiva. Bateram-nos aos dois e trancaram-me no meu quarto durante duas semanas. No final, ambos tivemos que pagar uma televisão novinha em folha.

13

Tomás C.

No dia em que o caldo se entornou, fui preso injustamente. Estava a passear no mercado quando reparei num homem bastante suspeito. Ele roubava um senhor idoso, que estava a vender peras frescas. Gritei para o ladrão parar, então o criminoso começou a fugir. Fui atrás dele pelas ruas, quando encontrei dois guardas, mandaram-me parar. Perguntaram-me o que eu andava a fazer, disse-lhes o que aconteceu. Mas eles não acreditaram e prenderam-me, confundindo-me com um outro suspeito.

14

Ana V.

No dia em que o caldo se entornou, fiquei muito triste. O meu avô foi para o hospital em estado muito grave. Parecia que a casa estava completamente vazia, sem as nossas brincadeiras. Mas eu sabia que ele era forte e iria ultrapassar tudo. Foram dias muito difíceis para a minha família, sempre muito preocupada. Entretanto o meu avô melhorou, veio para casa sorridente e abraçou-me. A minha felicidade voltou de novo e foi-se embora a tristeza.

15

Leonor C.

No dia em que o caldo se entornou, o passarinho fugiu. E não foi apenas porque a porta da gaiola estava aberta. Foi porque a janela da cozinha ficou aberta para entrar claridade. A família andava muito distraída e não reparou no pequeno incidente. Depois de algum tempo muito ocupados, todos repararam na gaiola vazia. Entraram em pânico, mas parece que Deus não os deixaria sofrendo. Pois acontece que o passarinho rapidamente voltou para casa com medo.

16

Madalena N.

No dia em que o caldo se entornou, alguém foi enganado. Ulisses, farto da esposa reclamando da torneira a pingar, resolveu surpreendê-la. No aniversário de casamento, como presente, arranjou-lhe a maldita torneira velha. Ao ver a surpresa, a esposa agradeceu com a respiração ofegante. Uns minutos depois, ouviu-se a campainha de casa a tocar insistentemente. Ao abrir a porta, Ulisses viu o canalizador com um buquê. Afinal de contas, a sua esposa queria outro homem como prenda.

17

Matilde F.

No dia em que o caldo se entornou, aquela casa desabou. A avó Alberta o jantar desperdiçou porque a porta aberta deixou. O Bolinhas, o gato da vizinha, pela cozinha entrou, cheirou-lhe bem. Aproximou-se da panela e, como podem imaginar, isto bem não acabou. Alberta foi ver do caldo e com uma tragédia se deparou. Uma magnífica sopa o gato derramou, por todo o chão ficou. A velha, com fome e sem caldo, o gato cozinhou, gostou.

18

Naíma R.

No dia em que o caldo se entornou, soube-se a verdade. Quando Carla revelou a traição, até a tijela acabou no chão. Mário ficou chocado sobretudo assim que soube a identidade do amante… No segundo seguinte, Mário agrediu o amante, seu irmão, com força. A polícia foi chamada e o Mário foi levado e processado. No momento em que ele foi libertado, procurou Carla com precaução. Mas já estava casada com um primo de Mário, que desastre.

19

Santiago S.

No dia em que o caldo se entornou, a Sissi chorou. A irmã torturou-a com as suas imensas bonecas Barbie sem cabeça. Foi uma tortura tal que o estojo de maquilhagem ficou destruído. Até o computador parecia aterrorizado, com parte do teclado luminoso partido. Enquanto as duas se matavam, a mãe subia furiosamente as escadas. Quando viu a guerra montada no quarto, mandou-as arrumar tudo severamente. E a Sissi enterrou-se nos seus pensamentos mais profundos e negativos.

20

Tomás C.

No dia em que o caldo se entornou, a decoração mudou. Estávamos a chegar a uma data mesmo muito especial, o Natal. A minha família e eu decidimos decorar a árvore de Natal. Um bonequinho ali, luzes a enfeitar, a estrela em cima brilhando. Fizemos um grande e árduo trabalho em equipa, valeu a pena. Durante a noite, os meus amigos felinos resolveram brincar, destruindo tudo. Logo de manhã, encontrámos a árvore estendida no chão e despida.

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